Francisca Júlia (1871 - 1920)
No crepúsculo do século XIX vários estilos literários disputavam os despojos do romantismo que tinha sido dominante nos anos anteriores. Os Parnasianos apareciam como a escola mais em voga, com formas poéticas altamente pensadas e construídas. Um dos motivos dessa predominância talvez residisse no desejo inconsciente dos poucos, ou pouquíssimos letrados brasileiros daquele período, não se sentirem tão periféricos, digamos assim, como era o Brasil de seu tempo. A imitação das modas de Paris, em tudo e inclusive na literatura, atendia àquela necessidade e, ao mesmo tempo, preparava, por oposição, a reação modernista que em breve tomaria o poder cultural do país. Seja como for, uma das autoras que se tornam famosas naqueles anos é a poeta paulista Francisca Júlia César da Silva Münster que vai morrer, aos 49 anos, em 1920, isto é, no próprio momento de crepúsculo do estilo que a consagrou. Por ser mulher enfrentou uma dificuldade inicial para afirmar sua poesia, mas foi curiosamente beneficiada: o crítico João Ribeiro pensou que os versos que ela tinha começado a publicar em jornais seriam na verdade do conhecido poeta parnasiano Raimundo Correa, oculto sob pseudônimo feminino. Resolveu então imitar o que julgou ser uma brincadeira do poeta: criou um pseudônimo feminino para si mesmo e passou a comentar os poemas. Quando o equívoco se esclareceu João Ribeiro ajudou Francisca Julia a publicar seu primeiro livro. Rapidamente ela ganhou fama no minúsculo círculo literário brasileiro. Os versos, como ocorre em geral com os parnasianos, são poluídos por um excesso de palavras arcaicas ou helenizantes e é difícil encontrar composições que dispensem glossários. Mas há exceções, onde é possível apenas perceber o domínio rítmico do soneto, característico de Francisca Julia. Por exemplo, o soneto que ouviremos a seguir, que se chama Rústica.
Francisca Júlia
Rústica
Da casinha, em que vive, o reboco alvacento
Reflete o ribeirão na água clara e sonora.
Este é o ninho feliz e obscuro em que ela mora;
Além, o seu quintal, este, o seu aposento.
Vem do campo, a correr; e úmida do relento,
Toda ela, fresca do ar, tanto aroma evapora,
Que parece trazer consigo, lá de fora,
Na desordem da roupa e do cabelo, o vento...
E senta-se. Compõe as roupas. Olha em torno
Com seus olhos azuis onde a inocência boia;
Nessa meia penumbra e nesse ambiente morno,
Pegando da costura à luz da claraboia,
Põe na ponta do dedo em feitio de adorno,
O seu lindo dedal com pretensão de joia.
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