Escrito em 1919, o poema recebeu o título em francês que significa literalmente "envio", no sentido de uma mensagem enviada, a remessa, no caso, do imortal dom destes versos
Seguimos com nossa viagem por alguns poemas mais longos, apresentando agora uma obra prima que se deve, no original inglês, à inspirada pena de Ezra Pound, bardo renascido nesta era moderna para desafinar o coro dos contentes, e na versão portuguesa, à inspirada tradução de Augusto de Campos.
Escrito em 1919, recebeu da elegância de seu autor o título em francês Envoi, isto é, e literalmente, "envio", no sentido de uma mensagem enviada, a remessa, no caso, do imortal dom destes versos.
Ezra Pound: Envoi
(Tradução: Augusto de Campos)
Envoi
Go, dumb-born book,
Tell her that sang me once that song of Lawes:
Hadst thou but song
As thou hast subjects known,
Then were there cause in thee that should condone
Even my faults that heavy upon me lie
And build her glories their longevity.
Tell her that sheds
Such treasure in the air,
Recking naught else but that her graces give
Life to the moment,
I would bid them live
As roses might, in magic amber laid,
Red overwrought with orange and all made
One substance and one colour
Braving time.
Tell her that goes
With song upon her lips
But sings not out the song, nor knows
The maker of it, some other mouth,
May be as fair as hers,
Might, in new ages, gain her worshippers,
When our two dusts with Waller’s shall be laid,
Siftings on siftings in oblivion,
Till change hath broken down
All things save Beauty alone.
Envoi
Vai, livro natimudo,
E diz a ela que um dia me cantou essa canção de Lawes:
Houvesse em nós
Mais canção, menos temas,
Então se acabariam minhas penas,
Meus defeitos sanados em poemas
Para fazê-la eterna em minha voz
Diz a ela que espalha
Tais tesouros no ar,
Sem querer nada mais além de dar
Vida ao momento,
Que eu lhes ordenaria: vivam,
Quais rosas, no âmbar mágico, a compor,
Rubribordadas de ouro, só
Uma substância e cor
Desafiando o tempo.
Diz a ela que vai
Com a canção nos lábios
Mas não canta a canção e ignora
Quem a fez, que talvez uma outra boca
Tão bela quanto a dela
Em novas eras há de ter aos pés os que a adoram agora,
Quando os nossos dois pós com o de Waller se deponham, mudos,
No olvido que refina a todos nós,
Até que a mutação apague tudo
Salvo a Beleza, a sós.
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