Emiliano Perneta, Charles Baudelaire e Paul Verlaine se declaravam explicitamente “decadente”.
Uma inquietação, um espírito de revolta, atrações soturnas e uma ânsia sem saber exatamente de que, foram marcas de muitos poemas românticos. Mas também da poesia de Charles Baudelaire e de Paul Verlaine, fontes de onde jorraria o parnasianismo, o simbolismo e aquela poesia decadentista que fecha o Século XIX, inclusive entre nós, como nomes como Emiliano Perneta, B.Lopes e o próprio Cruz e Souza. Essa trinca, aliás, se declarava explicitamente “decadente”. Não espanta que certos críticos tenham criado um pacote, que chamaram de “Romantismo tardio”, onde caberiam tanto versos baudelerianos quanto decadentistas. Só que os românticos viam na arte uma espécie de esoterismo, exaltavam a Natureza e a paixão e subordinavam a forma à emoção. Ou seja, nunca eram preciosistas, ao contrário desses poetas do crepúsculo de uma época, se podemos chama-los assim, cheios de cuidado com o apuro formal, os jogos de palavras, os visuais bizantinos, amiúde referidos a paisagens exóticas que em geral nunca tinham sido vistas. Tomemos o exemplo do soneto Não é só te querer de Emiliano Perneta, que é frio e pontilhado de artifícios pictóricos nada tropicais, como as referências ao rio franco-suíço Ródano e à germânica Floresta Negra.
Emiliano Perneta
Não é só te querer...
Não é só, não é só te querer, porém tudo
Que é teu, ó girassol girando sobre mim,
Com sorrisos onde ha seduções de veludo,
Atrações de luar e vozes d’um Jardim...
Sonho que me faz mal, tortura onde me iludo.
Cruel inquietação, ânsia que não tem fim,
Ó delírio de ver palácios com escudo,
Reinos antigos com torreões de marfim!
Gestos lindos e vãos do que já foi, querida,
Graça do que findou, essência e flor da vida,
Origens afinal secretas do teu eu...
Quem me dera beijar tudo isso que me alegra,
No meio da nudez desse infinito Céu,
Desse Ródano Azul, dessa Floresta Negra!
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