O poeta Emiliano Perneta começou a publicar seus trabalhos seis anos antes do golpe militar que deporia Dom Pedro II e faleceu no ano anterior à Semana Modernista de 1922.
Já que recordamos, nesta semana, o período da fundação da República, isto é, os anos do fim do Império e os começos do século XX, vem a calhar a lembrança de Emiliano Perneta, o poeta nascido em Pinhais, nos arredores de Curitiba, que começou a publicar apenas seis anos antes do golpe militar que deporia Dom Pedro II e faleceu no ano anterior à Semana Modernista de 1922. Naquele período a bússola da literatura brasileira apontava sempre para a França. Nas ruas de Paris, de fato, nasceram as tendências literárias que se tornariam dominantes também nas nossas letras: o parnasianismo e o simbolismo, especialmente coma influência de Charles Baudelaire. O modernismo vindouro trataria de relegar aos desprezo esses movimentos, embora viesse a sucumbir, e mais de uma vez, à sedução baudelariana. Uma vertente muito próxima ao Simbolismo foi o Decadentismo, também ancorado nos versos do autor das Flores do Mal. No Brasil essa denominação não teve grande relevância, embora Emiliano Perneta, que a crítica literária arrola entre nossos simbolistas, seja a rigor um decadentista, como podemos sentir ouvindo os versos de seu soneto Gata, quase cópia do soneto Le Chat de Baudelaire.
Emiliano Perneta
Gata
Na brancura da pele e no gesto macio,
A carícia tu tens e a moleza de gata:
O teu andar sutil é doce como a pata
Desse animal pisando um tapete sombrio...
Tens uma morbidez lânguida de sonata,
Teu sorriso é polido, é fino e é muito frio...
Se as tuas mãos acaso eu beijo e acaricio,
Sinto uma sensação esquisita, que mata.
Quando eu tomo esse teu cabelo ondeado e louro,
E o cheiro, e palpo o teu corpo branco e felino,
Como te torces, pois, minha serpente de ouro!
O teu corpo se enrola em meu corpo amoroso,
E o teu beijo me aquece e vibra como um hino,
Animal de voz rouca e gesto silencioso!
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