Entre as marcas da estética decadentista em poesia, está o tom profanador, o clima de refinamento e indiferença.
Entre as marcas da estética decadentista em poesia, que surgiu em fins do século XIX praticamente numa simbiose com o simbolismo, a ponto de chegar a ser confundida com ele, está o tom profanador, o clima de refinamento e indiferença, típico dos chamados “dândis”, o desejo de escandalizar, algumas gotas de satanismo de salão (que então estava na moda) e uma sensualidade com ecos sádicos. Isso tanto na terra natal deste estilo, a França, como entre nós. Tanto que alguns destes traços estão bem presentes na obra de Emiliano Perneta, poeta paranaense cujo período de atividade não podia ser mais típico: começou a publicar seis anos antes da proclamação da República e morreu no ano anterior à Semana de Arte Modernista. Ouçamos um exemplo de seu erotismo torturante, se podemos assim dizer, onde a doçura, o gozo e o amor vem de mãos dadas com a perfídia, o veneno e a crueldade. O soneto de Emiliano Perneta, publicado em 1911, intitula-se Esse perfume...
Emiliano Perneta
Esse perfume...
Esse perfume ― sândalo e verbenas ―
De tua pele de maçã madura,
Sorvi-o quando, ó deusa das morenas!
Por mim roçaste a cabeleira escura.
Mas ó perfídia negra das hienas!
Sabes que o teu perfume é uma loucura:
― E o concedes; que é um toxico: e envenenas
Com uma tão rara e singular doçura!
Quando o aspirei — as minhas mãos nas tuas —
Bateu-me o coração como se fora
Fundir-se, lírio das espáduas nuas!
Foi-me um gozo cruel, áspero e curto...
Ó requintada, ó sabia pecadora,
Mestra no amor das sensações de um furto!
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