Emiliano Perneta (1866-1921)
Nesta semana celebra-se a proclamação da República brasileira. Nos últimos anos, muitos historiadores passaram a descrever o fato, em resumo, como uma conjura cívico-militar de um grupo descontente com seu quinhão de mando e privilégios, e que acabou por tomar a totalidade do poder, apoiado na força das armas. Se tal mudança de fato beneficiou o país é querela não resolvida, pois há argumentos de parte a parte. Seja como for, na cultura não tínhamos sequer chegado à independência, e tudo girava ao redor da França (onde, aliás, a Monarquia tinha sido abolida em 1870). Em filosofia, campeava o positivismo. Na poesia, o parnasianismo e o simbolismo foram correntes dominantes no último quartel do século. Mas o manto simbolista incluía uns poucos poetas a quem seria mais preciso chamar decadentistas. A marca deste estilo é um esteticismo exacerbado, que tem raízes nas obras de dois poetas franceses célebres: Charles Baudelaire e Paul Verlaine. Mas se também apreciam a suntuosidade verbal e o preciosismo técnico, os decadentistas não alimentam nenhum desejo de transcendência: seu foco é o simulacro, o artifício, o divórcio de qualquer moralidade e uma estranha exaltação do Mal, talvez afirmação às avessas do Bem. Ouçamos um dos raros poetas decadentistas brasileiros, o paranaense Emiliano Perneta, que viveu justamente entre o fim do Império e a Primeira República. O soneto que ouviremos se intitula... Donzelas.
Emiliano Perneta
Donzelas
Donzelas que passais com esse gesto ameno,
E a doce palidez enfim d’uma cecém,
Em vão esse ar é grave, e esse aspecto é sereno,
Não me olheis, não me olheis, que não vos quero bem.
Sulamitas gracis e de rosto moreno,
E claras como a luz, e cheias de desdém,
Tendes perfume, sei, mas não tendes veneno,
Sois muito lindas, sois, não vos quero porém...
Lírios do campo com figura de mulher,
A minha decadência é um fruto caprichoso
Desta época sem luz que não sabe o que quer,
Não sabe nada; mas, ó candidez ideal,
Eu não posso querer senão o Monstruoso,
E o bem Maravilhoso, e o bem Fenomenal!
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