O soneto Corre mais que uma vela... de Emiliano Perneta seja o melhor exemplo brasileiro da aproximação do império da velocidade e das máquinas que em breve levaria tantos para a morte.
A passagem da República ao Império corresponde, historicamente, tanto aos estertores do Século XIX quanto aos prelúdios, se podemos chama-los assim, do Século XX, que de fato terá início na I Guerra Mundial, em 1914, quando a tecnologia revelará, para surpresa dos povos, seu potencial de industrialização da morte em escala jamais vista. Nesse período intermediário emergem em poesia o parnasianismo, última tentativa de resgate do verso burilado antes do bombardeio modernista, e o simbolismo, que de certa forma também é o último romantismo, precedente às iconoclastias modernas. Ambos são brevíssimos: confundem-se, sobrepõem-se, finalmente agonizam no decadentismo, o canto do cisne de um mundo literário que morre, e do qual só resta a casca, a forma especiosa, privada de qualquer transcendência. É este o limite estético da obra do paranaense Emiliano Perneta. Mas então já se ouviam os clarins da nova era, como arautos de um futurismo nihilista nos poemas dos derradeiros novecentistas. Ao lado do poema Num trem de subúrbio, de Alberto de Oliveira, que já lemos aqui, talvez o soneto Corre mais que uma vela... de Emiliano Perneta seja o melhor exemplo brasileiro da aproximação do império da velocidade e das máquinas que em breve levaria tantos para a morte. Talvez seja, também, a melhor e mais presente obra do poeta. Vamos ouvi-lo.
Emiliano Perneta
Corre mais que uma vela...
Corre mais que uma vela, mais depressa,
Ainda mais depressa do que o vento,
Corre como se fosse a treva espessa
Do tenebroso véu do esquecimento.
Eu não sei de corrida igual a essa:
São anos e parece que é um momento;
Corre, não cessa de correr, não cessa,
Corre mais do que a luz e o pensamento...
É uma corrida doida essa corrida,
Mais furiosa do que a própria vida,
Mais veloz que as noticias infernais...
Corre mais fatalmente do que a sorte,
Corre para a desgraça e para a morte...
Mas eu queria que corresse mais!
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