É na literatura brasileira, literalmente, um ilustre desconhecido, porque seu nome permanece injustamente, oculto do grande público e desconsiderado pela crítica
O romancista, contista, poeta, cronista e pintor Eduardo Alves da Costa, hoje com 80 anos, é na literatura brasileira, literalmente, um ilustre desconhecido. Desconhecido porque seu nome permanece injustamente, oculto do grande público e desconsiderado pela crítica. E ilustre, porque esse autor, que começou a publicar os primeiros contos e poesias na década de 1960 escreve, entre outros textos, o romance Chongas, louvado por Antonio Houaiss, os maravilhosos contos A Queda da Camélia e Os Gigantes de Kashtar, inclusos num livro magistral, A Sala do Jogo, os premiados livros de poesia Salamargo e No Caminho, com Maiakovsky, o livro juvenil Memórias de um Assobiador que dialoga de modo brilhante, irreverente e hilário com o célebre O Apanhador no Campo de Centeio de J.D.Salinger, um recente livro de poemas, O Canibal Vegetariano, o romance Tango, com violino. E isso sem falar de sua atividade como pintor, que começou com Mário Gruber, nem das peças de teatro. Até parece que se espera que morra, antes de declarar sua importância, como aliás aconteceu com muitos antes dele. Felizmente a SESI-SP Editora está tentando remediar a essa situação de absoluta injustiça, publicando toda a obra de Eduardo Alves da Costa. Já se encontram re-editados os livros 100 Gramasde Buda, Na Sala do Jogo e Balada para os Últimos Dias. De nossa parte nos unimos ao esforço de resgate de sua obra, com um dos últimos poemas das coletâneas reunidas em No Caminho, com Maiakovsky. Vamos ouvir os versos intitulados Esse tigre de múltiplas faces.
Eduardo Alves da Costa
Esse tigre de múltiplas faces
Quando contruíste as paredes
que hoje te aprisionam, sonhavas
ordenar tua vida, canalizá-la
em direção ao mais belo destino.
E assim, estagnados, teus dias
apodreceram e tuas ilusões
se precipitaram no lodo
de teus nobres princípios.
Mas não te desesperes. Desata
a magia e ela voará para além
de todas as leis conhecidas,
até o reino da Natureza Insondável.
Ela te libertará e te devolverá
a ti mesmo no dorso do Imprevisível,
esse tigre de múltiplas faces,
devorador de melancolias.
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