Donizete Galvão deixou uma obra que, a cada dia que passa, mais se destaca pela opulência léxica, pelo vigor expressivo, pela potência de suas raízes firmemente fincadas na terra.
Esta é uma semana com um feriado na quinta-feira, o que nos deixa com três dias úteis de um lado e outro, que é a sexta-feira, isolado. Uma oportunidade então para lermos mais três poemas deste poeta mineiro: Donizete Galvão. Morto em 2014, com precoces 58 anos de idade, deixou uma obra que, a cada dia que passa, mais se destaca pela opulência léxica, pelo vigor expressivo, pela potência de suas raízes firmemente fincadas na terra. São palavras de pedra, talhadas com formão exato, onde ouvirmos os sulcos e as texturas, uma poesia do tato, portanto do toque, portanto do condão: verso que transforma tudo. Este é o poeta, Donizete Galvão, que ouviremos agora, nas palavras do poema A dureza do instante.
Donizete Galvão
A dureza do instante
Um tapete de goiabas
estende-se sobre a grama.
Os jacintos em bloco
ergueram suas flores.
Poderia ser este o lugar.
Este o tempo do repouso.
Mas a roda dentada nunca para.
Mói o caramujo envolto em formigas.
Mói o cão içado do poço por um balde.
Mói os fios de cabelo de Anita
que protegem os pés de rosa.
Mói as rosas.
(Em direção ao rio,
lá vai a mulher com a pedra no bolso.
Lá está ele na cama
com os tubos no nariz.)
Há perfumes de jacintos
e goiabas vermelhas de outono.
Cada instante tem sua polpa
e no centro o áspero caroço.
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