No poema que leremos a seguir, as duas características se fazem presentes: a visualidade e o erotismo.
Já assinalamos aqui a visualidade e o erotismo como duas características estruturais dos versos do poeta caribenho de língua inglesa Derek Walcott, Prêmio Nobel de Literatura de 1992, morto no último dia 17 de março de 2017, aos 87 anos. Ele nasceu na ilha de Santa Lucia, perto da Martinica e de Barbados, e a paisagem das ilhas tropicais, com suas exuberantes belezas naturais, sempre o fascinou. Dessa opulência de cores e texturas para a sensualidade literária, por assim dizer, o salto foi pequeno. No poema que leremos a seguir, as duas características se fazem presentes: a partir de uma peça de coral o poeta evoca tanto o corpo quanto a ausência do corpo da amada, em referências sempre palpáveis: o peso, o sal, a maciez, a pedra. Ouçamos então, na tradução deste apresentador, o poema intitulado Coral.
Derek Walcott
Coral
tradução de Fabio Malavoglia
Coral
This coral's hape echoes the hand
It hollowed. Its
Immediate absence is heavy. As pumice,
As your breast in my cupped palm.
Sea-cold, its nipple rasps like sand,
Its pores, like yours, shone with salt sweat.
Bodies in absence displace their weight,
And your smooth body, like none other,
Creates an exact absence like this stone
Set on a table with a whitening rack
Of souvenirs. It dares my hand
To claim what lovers' hands have never known:
The nature of the body of another.
Coral
Essa presa de coral reverbera a mão
Que ela esvaziou. Sua
Imediata ausência é peso. Como pedra-pomes,
Como teu seio na concha de mi’a mão.
Frio de mar, seu mamilo arranha como areia,
Seus poros, como os teus, brilham com sal no suor.
Corpos em ausência deslocam seu peso,
E teu corpo, macio como nenhum outro,
Cria uma ausência exata, feito esta pedra
Posta numa mesa com um branco suporte
De lembranças. Ela desafia minha mão
A proclamar o que as mãos de amantes nunca conheceram:
A natureza do corpo de outra pessoa.
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