Calderón de La Barca (1600 – 1681)
Dramaturgo imortal, soldado valente e poeta talentoso, o espanhol Pedro Calderón de La Barca foi uma das mais notáveis figuras do chamado “Siglo de Oro”, isto é, o Século de Ouro da literatura castelhana. Esse nome, aliás, não é desprovido de conotações misteriosas, pois muitos de seus autores foram homens de profunda erudição, conhecedores da tradição e das lendas relativas ao advento de uma Idade de Ouro, esperança perene dos homens. No soneto que ouviremos a seguir Calderón de La Barca de certa forma retoma a linha de suas mais célebre peça, “La Vida es Sueño”, e encontra, com outras palavras, o tema da fragilidade e efemeridade da vida, tão atual hoje quanto era há 350 anos atrás. De fato, como nos lembrou um poeta, somos feitos da mesma matéria dos sonhos, e tão duráveis quanto eles. Na tradução deste apresentador ouçamos então o soneto A Noite.
Calderón de La Barca
A Noite
tradução de Fabio Malavoglia
La Noche
Esos rasgos de luz, esas centellas
que cobran con amagos superiores
alimentos del sol en resplandores
aquello viven que se duele de ellas.
Flores nocturnas son: aunque tan bellas,
efímeras padecen sus ardores,
pues si un día es el siglo de las flores,
una noche es la edad de las estrellas.
De esa, pues, primavera fugitiva,
ya nuestro mal, ya nuestro bien se infiere;
registro es nuestro, o muera el sol o viva.
¿Qué duración habrá que el hombre espere,
o qué mudanza habrá que no reciba
de astro que cada noche nace y muere?
A Noite
Tais centelhas de luz, as sentinelas
que exigem com avisos superiores
alimentos do sol em resplendores,
vivem aquilo que se sofre delas.
Flores noturnas são: embora belas,
efêmeros perecem seus ardores;
pois, se um dia é o século das flores,
uma noite é a idade das estrelas.
Dessa, portanto, primavera fugitiva
já nosso mal, já nosso bem incorre;
é nosso rastro, quer morra o sol ou viva.
Qual prazo espera o homem que não jorre
ou que mudança virá que a não motiva
o astro que a cada noite nasce e morre?
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