Na contramão do poema-pílula e do "semi hai kai" contemporâneo, sua poesia tem fôlego e uma sonoridade excepcional, alcançando, assim, a vertiginosa altura da poesia épica
Homenagemos o romancista, poeta e dramaturgo Ariano Suassuna, morto no último mês de julho, lendo alguns de seus poemas. São vigorosos sonetos, de português sonante e de sabor antigo.
A potência de seus versos vem das mesmas fontes onde beberam os menestréis medievais e os cantadores sertanejos. É barroca, religiosa, aprecia desdobrar-se em palavras magníficas. Na contramão do poema-pílula e do "semi hai kai" contemporâneo, tem fôlego e uma sonoridade excepcional. E alcança, assim, a vertiginosa altura da poesia épica, como podemos perceber agora, ouvindo os versos de A Mulher e o Reino.
Ariano Suassuna: A mulher e o reino
Oh! Romã do pomar, relva esmeralda
Olhos de ouro e azul, minha alazã
Ária em forma de sol, fruto de prata
Meu chão, meu anel, cor do amanhã
Oh! Meu sangue, meu sono e dor, coragem
Meu candeeiro aceso da miragem
Meu mito e meu poder, minha mulher
Dizem que tudo passa e o tempo duro
tudo esfarela
O sangue há de morrer
Mas quando a luz me diz que esse ouro puro
se acaba pôr finar e corromper
Meu sangue ferve contra a vã razão
E há de pulsar o amor na escuridão
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