Ariano Suassuna (1927-2014)
O tema da morte é sempre difícil, seja em poesia, seja em outras linguagens, porque naturalmente não é nenhuma brincadeira encarar a finitude humana. Um grande poeta, como Fernando Pessoa, escreveu: "há três coisas com que um espírito nobre, de velho ou moço que seja, nunca brinca, porque o brincar com elas é um sinal distintivo da baixeza da alma: são elas os deuses, a loucura e a morte". Na busca por uma imagem digna do que existe de solene no fim de qualquer vida humana lembramos alguns dos magníficos sonetos de Ariano Suassuna. Vale lembrar que Suassuna escreveu um famoso poema intitulado Lápide para o dia de sua própria morte e que, em sua obra, esse assunto nunca é banalizado. Ouçamos, pois, a voz vigorosa desse poeta nordestino nas palavras do soneto A Moça Caetana: a Morte Sertaneja (com tema de Deborah Brennand).
Ariano Suassuna
A Moça Caetana - A Morte Sertaneja (com tema de Deborah Brennand)
Eu vi a Morte, a moça Caetana,
com o Manto negro, rubro e amarelo.
Vi o inocente olhar, puro e perverso,
e os dentes de Coral da desumana.
Eu vi o Estrago, o bote, o ardor cruel,
os peitos fascinantes e esquisitos.
Na mão direita, a Cobra cascavel,
e na esquerda a Coral, rubi maldito.
Na fronte, uma coroa e o Gavião.
Nas espáduas, as Asas deslumbrantes
que, rufiando nas pedras do Sertão,
pairavam sobre Urtigas causticantes,
caules de prata, espinhos estrelados
e os cachos do meu Sangue iluminado.
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