Alda Lara, não chegou a amadurecer na sua literatura: morreu antes de completar 32 anos.
A poeta angolana Alda Ferreira Pires Barreto de Lara Albuquerque, mais conhecida como Alda Lara, não chegou a amadurecer na sua literatura: morreu antes de completar 32 anos. Foi educada em Portugal, mas a África foi a constante referência de seus tão breves versos. O poema que ouviremos a seguir leva o nome de Testamento e expressa com límpida coragem e claro sentimento as últimas vontades de Alda Lara.
Alda Lara
Testamento
À prostituta mais nova
Do bairro mais velho e escuro,
Deixo os meus brincos, lavrados
Em cristal, límpido e puro...
E àquela virgem esquecida
Rapariga sem ternura,
Sonhando algures uma lenda,
Deixo o meu vestido branco,
O meu vestido de noiva,
Todo tecido de renda...
Este meu rosário antigo
Ofereço-o àquele amigo
Que não acredita em Deus...
E os livros, rosários meus
Das contas de outro sofrer,
São para os homens humildes,
Que nunca souberam ler.
Quanto aos meus poemas loucos,
Esses, que são de dor
Sincera e desordenada...
Esses, que são de esperança,
Desesperada mas firme,
Deixo-os a ti, meu amor...
Para que, na paz da hora,
Em que a minha alma venha
Beijar de longe os teus olhos,
Vás por essa noite fora...
Com passos feitos de lua,
Oferecê-los às crianças
Que encontrares em cada rua...
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