O poema Presença Africana da angolana Alda Lara revela os sentimentos da geração que liderou a independência das colônias lusitanas na África.
É interessante ouvir o poema Presença Africana da angolana Alda Lara porque revela os sentimentos da geração que liderou a independência das colônias lusitanas na África. Tomemos o caso dessa poeta: nascida em 1930 era, por volta de 1950, uma estudante em Lisboa, idealista, tomada pelo sonho nacionalista que se consolidaria até os anos 60. Como ela morreu em 1962 não chegou a testemunhar a irresponsável retirada do exército português após a Revolução dos Cravos, que abriu as portas para a ressureição das guerras tribais, disfarçadas de guerras políticas. Além de não ter visto esse banho de sangue, também não teve chance de se decepcionar com a faceta ditatorial do novo governo, como ocorreu com o poeta Rui Knopfli em Moçambique. E talvez tenha sido uma sorte para ela, que só nos deixou versos de ingênua esperança como os que leremos a seguir: de Alda Lara... Presença Africana.
Alda Lara
Presença Africana
E apesar de tudo,
ainda sou a mesma!
Livre e esguia,
filha eterna de quanta rebeldia
me sagrou.
Mãe-África!
Mãe forte da floresta e do deserto,
ainda sou,
a irmã-mulher
de tudo o que em ti vibra
puro e incerto!...
- A dos coqueiros,
de cabeleiras verdes
e corpos arrojados
sobre o azul...
A do dendém
nascendo dos abraços
das palmeiras...
A do sol bom,
mordendo
o chão das Ingombotas...
A das acácias rubras,
salpicando de sangue as avenidas,
longas e floridas...
Sim!, ainda sou a mesma.
- A do amor transbordando
pelos carregadores do cais
suados e confusos,
pelos bairros imundos e dormentes
(Rua 11...Rua 11...)
pelos negros meninos
de barriga inchada
e olhos fundos...
Sem dores nem alegrias,
de tronco nu e musculoso,
a raça escreve a Presença Africana,
a força destes dias...
E eu revendo ainda
e sempre, nela,
aquela
longa historia inconsequente...
Terra!
Minha, eternamente...
Terra das acácias,
dos dongos,
dos cólios baloiçando,
mansamente... mansamente!...
Terra!
Ainda sou a mesma!
Ainda sou
a que num canto novo,
pura e livre,
me levanto,
ao aceno do teu Povo!...
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