Ada Negri (1870 – 1945)
A poeta italiana Ada Negri nasceu de família muito pobre, na cidade de Lodi, na região da Lombardia. Com um ano de idade tornou-se orfã de pai mas, graças aos sacrifícios da mãe, conseguiu cursar a Escola Normal e tornar-se professora primária. Aos 18 anos começou a publicar alguns poemas num jornal local, depois reunidos, em 1892, no livro Fatalidade, imediato e enorme sucesso literário. Ada Negri tornou-se rapidamente conhecida e foi incensada principalmente por artistas e intelectuais de tendência socialista que viam nela, por assim dizer, “a poeta vinda do povo”. Mas a verdade é que ela de fato transmitiu, de forma tocante, as angustias e dores da pobreza. Não surpreende também que entre suas influências se contassem os Veristas, um dramaturgo como Ibsen e mesmo a revolucionária Anna Kuliscioff. Isso, porém, são apenas molduras casuais para a profundidade de sua escrita. Basta ler, por exemplo, um de seus mais conhecidos poemas, Cade la neve ou Nevicata como se chamou a princípio, para sentir a força de sua evocação. A paisagem, o silêncio, a paz, está tudo lá. Vamos ouvir o poema, em tradução deste apresentador, com o título de... Desce a neve.
Ada Negri
Desce a neve
tradução de Fabio Malavoglia
Cade la neve
Sui campi e sulle strade;
silenziosa e lieve,
volteggiando la neve
cade.
Danza la falda bianca
nell'ampio ciel scherzosa
poi sul terren si posa
stanca.
In mille immote forme
sui tetti e sui camini,
sui cippi e sui Giardini
dorme.
Tutto d'intorno è pace;
chiuso in oblio profondo
indifferente il mondo
tace.
Ma ne la calma imensa
Torna ai ricordi il core,
E ad un sopito amore
Pensa.
Desce a neve
Sobre a rua e sobre a messe
Silenciosa e leve,
Rodopiando a neve
Desce.
Branca cai a poeira
De giz a dançar na lousa
Do céu e após repousa
Ordeira.
Imóvel manto enorme
Nos tetos, nos jardins,
Nas trilhas ela enfim
Dorme.
Tudo em torno é paz;
Ocluso em olvido fundo
Indiferente o mundo
Jaz.
Mas nessa calma imensa
Torna ao peito o clamor
e num dormente amor
Pensa.
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