O compositor era ao mesmo tempo amado pelo público e odiado pela crítica
Nenhum compositor foi mais amado por públicos de todo o mundo e ao mesmo tempo tão massacrado pela crítica como Sergei Rachmaninov, nascido em 1873 e morto em 1943. É o caso mais flagrante de descompasso entre uma péssima recepção crítica e um formidável sucesso público.
Seus concertos para piano no.s 2 e 3 estão entre os mais populares de todas as épocas – o terceiro, então, levou o apelido de “Rach-3” no filme “Shine” que em 1996 rendeu sete indicações ao Oscar e o prêmio de melhor ator a Geoffrey Rush. O outro enorme sucesso alavancado pela música de Rachmaninov no cinema aconteceu em 1980, com o filme “Em Algum Lugar do Passado”, estrelado por Christopher Reeves. Ele viaja no tempo embalado pela décima oitava variação da “Rapsódia sobre um Tema de Paganini”. São apenas 3 minutos de música, mas que, no entanto, contêm uma melodia poderosíssima, capaz de seduzir o público de concertos e levar às lágrimas quem assiste ao filme.
O próprio Sergei sempre viveu situação contraditória: era badaladíssimo como o maior pianista virtuose e um maestro talentoso; e ao mesmo tempo sistematicamente massacrado pelo mundo musical por conta de sua atividade como compositor.
Ele estava em Moscou revisando seu concerto no. 1 quando explodiram os canhões da Revolução de outubro de 1917. Ele de fato não era contra a revolução. No início daquele ano até fizera dois recitais em prol da “causa do país agora livre”; chegou a assinar-se “o artista livre S. Rachmaninov”. Mas a violência desordenada e o caos o apavoraram. Ele não reconhecia mais seu país.
No natal daquele 1917 um trenó ocupado pela família Rachmaninov apresentou-se na fronteira sueca. Ele só levou consigo algumas partituras e manuscritos. O restante ficou para trás. Sergei jamais voltaria a ver seu país, mas manteve a cidadania russa até 1943, quando, pouco antes de morrer, em fevereiro, assumiu a cidadania norte-americana.
Estar longe de seu país foi fatal para o compositor. Ele praticamente parou de compor, com raras exceções, como a inesperadamente moderna “Rapsódia sobre um tema de Paganini”, de 1934.
O compositor morreu dentro dele, mas o pianista e o maestro foram obrigados a manter um ritmo anual entre 50 e 60 recitais e concertos, por motivos financeiros. Era preciso sustentar a família. Apenas em 1926 voltou a compor. Escreveu o quarto concerto para piano, que no entanto já tinha três movimentos praticamente prontos quando saiu da Rússia. Recepção horrível. Parou de novo até 1931. Criticava nos compositores modernos a “ausência de melodias”.
Nos últimos dez anos de vida, além da “Rapsódia”, só compôs a Terceira Sinfonia e as Danças Sinfônicas. Seu derradeiro endereço nos Estados Unidos foi Beverly Hills, em Hollywood. Embora sua música tenha sido clonada centenas de vezes nas trilhas sonoras dos filmes, jamais compôs algo para o cinema.
Tamanho preconceito deve-se ao fato de que sua música em definitivo parece deslocada de seu tempo. Em sua maior parte composta no século 20, ela pertence, por sua estética e sua fatura, ao século 19. É esta, provavelmente, a razão da hostilidade de músicos e compositores que realizavam, nas primeiras décadas do século 20, uma revolução radical nas técnicas musicais.
Mas não deixa de ser curioso que um homem moderno como Sergei Rachmaninov – louco por automóveis, fanático por cinema e aviação – tenha construído uma imagem artística tão ligada ao passado.
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