Uma vila operária com 100 anos que é moderna até hoje
A indústria fez a grandeza de São Paulo e foi graças ao seu desenvolvimento que a cidade cresceu tanto e se tornou, nos anos 50, o maior centro industrial da América Latina. Até os anos 80, bairros inteiros eram tomados pelas fábricas, mesmo nas áreas próximas ao centro como o Brás, Mooca, Ipiranga e muitos outros.
Muitos desses grandes galpões industriais ainda existem, em geral com outros usos, mas a maioria acabou demolida junto com as chaminés, que pontilhavam a paisagem da cidade até bem pouco tempo.
Mas algumas instalações pioneiras se mantém, como o Cotonifício Rodolfo Crespi, a maior tecelagem de algodão de São Paulo que resiste na Rua dos Trilhos, no bairro da Mooca, agora transformada em supermercado. Também no Brás, os maiores prédios das antigas Indústrias Matarazzo, a Tecelagem Mariângela e o Moinho Matarazzo, que chegaram a ocupar 10 mil operários estão quase intactos e imponentes como no começo do século 20.
Talvez a recordação mais curiosa desse primeiro surto industrial que a cidade viveu não seja uma fábrica, mas uma vila operária. A Vila Maria Zélia, construída pelo pioneiro da indústria Jorge Street, para moradia dos operários da sua fábrica, a Cia. Nacional de Tecidos de Juta.
Street era um médico carioca que prosperou em São Paulo como grande industrial e líder empresarial. Tinha ideias modernas e acreditava nelas. Foi o único industrial a apoiar as reivindicações dos operários na grande greve de 1917, que paralisou toda a cidade. Foi um dos primeiros a propor licença-maternidade de dois meses para as funcionárias grávidas e apoiou o direito de reunião e sindicalização dos operários. A vila, construída com projeto de um arquiteto francês especialmente contratado para a tarefa, seria considerada um modelo em qualquer grande cidade industrial do mundo. Possuía sua própria igreja, escola, creche para os filhos das mães que trabalhavam, armazéns e casas confortáveis para os operários. Quando foi inaugurada em 1917, reuniu a fina flor da elite paulista embasbacada com a grandiosidade do projeto.
A fábrica foi vitima da crise de 1929 e deixou de operar em 1931. Acabou nas mãos do governo e as casas foram vendidas aos moradores na década de 60.
Hoje resta pouco da antiga vila. Mas o que sobrou, a igreja ainda em atividade, os armazéns e escolas em ruínas e as casas reformadas ao longo dos anos, são um testemunho vivo de uma cidade industrial que acreditava no seu futuro.
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