Cinemas de rua ainda existem, mas estão acabando.
São Paulo sempre teve muitos cinemas. Desde que se instalou por aqui o primeiro deles, o Bijou Theatre, eles logo se espalharam pela cidade. Esse pioneiro que funcionou a partir de 1907, ficava no cruzamento da São João com o Anhangabaú, que ainda não estava urbanizado. Depois dele vieram muitos outros e se espalharam pelo Centro e depois pelos bairros.
No final dos anos 50 e início dos anos 60 a região em torno da Avenida São João ficou conhecida como Cinelândia, tal a quantidade de cinemas que ocupavam aquelas ruas. Alguns ainda existem, sendo o mais simbólico o Cine Marabá, na Avenida Ipiranga, que foi reformado e resiste bravamente. Em frente a ele está o Cine Ipiranga, um lindo projeto de Rino Levi. Na Conselheiro Crispiniano ainda existe e está sendo reformado pela Prefeitura, o Cine Marrocos, um cinema que pretendia ser o mais luxuoso de São Paulo e era decorado como o cenário de um filme hollywoodiano. Todos eles eram grandes e elegantes e pretendiam atrair as plateias mais seletas da cidade.
Mas havia cinemas de outro tipo, que se especializavam em exibir filmes de qualidade, não comerciais, chamados naquela época de “filmes de arte”. O Bijou, um micro cinema da Praça Roosevelt, que não comportava mais do que 100 espectadores, exibia continuamente os melhores filmes franceses da “Nouvelle Vague”, além dos desconhecidos filmes húngaros, poloneses e tchecos, que logo se tornaram clássicos.
No início dos anos 60, quando a Avenida Paulista já começava a concorrer com o Centro em movimento comercial e no número de cinemas, surgiu o Belas Artes. Era um cinema dedicado exclusivamente ao “cinema de arte” como o próprio nome já informava e os filmes exibidos ali eram previamente considerados de grande qualidade. Ele rapidamente se estabeleceu como o cinema dos melhores filmes. Fellini, Bergman, Visconti, Antonioni e muitos outros diretores clássicos tiveram seus filmes exibidos ali. O local virou ponto de encontro de jovens intelectuais que se reuniam no Riviera ou no Ponto Quatro, ambos do outro lado da Rua da Consolação. Para um papo menos “cabeça” havia uma infinidade de pizzarias, quase que uma ao lado da outra, entre elas a “Zi Tereza”, com suas pizzas enormes e inesquecíveis.
Hoje o movimento caiu muito e as pizzarias e o Ponto Quatro já não estão lá. O Riviera, meio escondido, resiste. Mas o cinema, o velho Belas Artes que formou a cabeça e o gosto de várias gerações de paulistanos, corre de novo o risco de fechar.
Se isto acontecer, não será apenas mais um cinema de rua que fecha as portas. Irá com ele uma parte da memória afetiva e cultural de muitos e muitos paulistanos.
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