A cidade dos Bondes
Na segunda metade do século 19 São Paulo era pouco mais do que uma vila provinciana. No primeiro Censo realizado em 1872 a população da cidade atingia 31.375 habitantes e já começava timidamente a crescer. Nesse mesmo ano, a Cia. Viação Paulista instalou na cidade os primeiros bondes.
Mas não eram os bondes que os paulistanos mais velhos ainda lembram. Eram veículos muito leves que transportavam no máximo 15 passageiros. E eram puxados por burros. Os bondes “a burro” como se dizia, transportaram os paulistanos até o inicio do século 20. Em maio de 1900 a Light instalou em São Paulo o serviço de bondes elétricos. Foi uma revolução.
O escritor Oswald de Andrade que era menino na época, assistiu a viagem do primeiro bonde elétrico pelas ruas da cidade e conta a história no seu livro de memórias.
“Anunciou-se que São Paulo ia ter bondes elétricos. Uma febre de curiosidade tomou as famílias, as casas, os grupos. Como seriam os novos bondes que andavam magicamente, sem impulso exterior? Eu tinha notícia pelo pretinho Lázaro, filho da cozinheira de minha tia, vinda do Rio, que era muito perigoso esse negócio de eletricidade. Quem pusesse os pés nos trilhos ficava ali grudado e seria esmagado fatalmente pelo bonde. Precisava pular (...). Um mistério esse negócio de eletricidade. Ninguém sabia como era. Como funcionava. Para isso as ruas da pequena São Paulo de 1900 enchiam-se de fios e de postes. A cidade tomou um aspecto de revolução. Todos procuravam ver. Naquele dia de estreia, ninguém pagava passagem, era de graça. A afluência tornou-se, portanto, enorme. O bonde deixava o largo de São Bento, entrava na rua Libero Badaró, subia a rua São João.
Um murmúrio tomou conta dos ajuntamentos. La vinha o bicho! O veículo amarelo e grande ocupou os trilhos do centro da via pública. Um homem de farda azul e boné o conduzia, tendo ao lado um fiscal. Uma alavanca de ferro prendia-o ao fio esticado, no alto. Uma campainha forte tilintava abrindo as alas convergentes do povo. Desceu devagar. E ficou pelo ar, ante o povo boquiaberto que rumava para as casas, a atmosfera dos grandes acontecimentos. Nas ruas, os acendedores de lampião passavam com suas varas ao ombro acendendo acetilenos da iluminação pública”.
Em 1901 a Light comprou todos os velhos bondes “a burro” da Cia. Viação Paulista e estabeleceu o monopólio da eletricidade. Os bondes elétricos dominaram a cidade até 1968 quando o último bonde para Santo Amaro circulou.
Eles também desapareceram e sobrevivem apenas nas lembranças da cidade.
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