Luiz Gama foi o mais importante líder abolicionista de São Paulo e um verdadeiro herói da cidade!
Em São Paulo nunca houve muitos negros. A região era pobre e os escravos eram caros. Na cidade, ter escravos domésticos era um luxo permitido a muito poucos. Nas estatísticas de população do século 19, jamais se registrou mais de 4 mil escravos na cidade. Mas nas regiões mais prósperas, onde se plantava cana, como Campinas e Piracicaba, havia muitos. E sempre que fugiam, vinham se refugiar na capital ou nas suas imediações.
Luiz Gama não era exatamente um escravo fugido. Nascido em Salvador, era filho de mãe negra livre. Mas foi vendido como escravo aos 10 anos pelo pai, falido e com dívidas. Só aprendeu a ler aos 17 e obteve a sua liberdade apelando judicialmente. Instrui-se sozinho e rapidamente. Aos 29 já era um escritor consagrado. Tornou-se jornalista e fundou diversos jornais como o Cabrião e o Diabo Coxo, dois semanários satíricos que faziam um enorme sucesso na provinciana São Paulo da segunda metade do século 19. Atuou também no foro de São Paulo, como rábula, um advogado prático. Tornou-se defensor dos pobres, mas sua especialidade era obter a alforria de escravos por meios legais, usando as contradições da confusa legislação da época. Obteve mais de 500 vitórias. Tornou-se um líder republicano e abolicionista, respeitado por todos.
Embora republicano e abolicionista não pode ver nem a abolição nem a república. Morreu em 1882, em São Paulo, na modesta casa em que morava, na Av. Celso Garcia.
O seu enterro fugiu totalmente ao convencional. Quando o corpo saiu, uma enorme multidão o aguardava. Havia negros e pobres misturados à nata da elite republicana da cidade. Quando o caixão ia ser colocado no coche fúnebre, uma comissão de negros da cidade, muitos libertados graças a ele, impediram a partida do carro e declararam que o corpo seria carregado pelos seus irmãos.
E foi assim. Num trajeto de 10 km até o Cemitério da Consolação, o corpo de Luiz Gama foi carregado nos braços da multidão. Mas não só pelos negros. As principais autoridades da cidade, advogados e políticos participaram do cortejo e carregaram o seu caixão. O corpo saiu dos Brás às 3 da tarde e só chegou ao cemitério quando já era noite. Segundo todos os relatos, foi o maior enterro já realizado em São Paulo e calcula-se que reuniu 10 mil pessoas numa cidade que tinha menos de 70 mil habitantes.
Ele foi o maior líder abolicionista de São Paulo e o único intelectual negro que conheceu pessoalmente a escravidão.
Um verdadeiro herói da cidade que infelizmente não se lembra mais dele.
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