Um sanduíche muito original mantém o mais antigo restaurante da cidade.
Em muitas grandes cidades do mundo se encontra com certa facilidade bares ou restaurantes que parecem eternos e sobrevivem por muito tempo, as vezes por séculos. Em Paris o famoso La Tour d’Argent alega que tem mais de 400 anos e ter sido fundado em 1582. Mas a história não tem comprovação e o prédio onde ele está instalado é do século 19. Não teria, portanto, mais de 150 anos, o que parece pouco para os críticos mais conservadores. Em Madrid, ao contrário, existe o restaurante Sobrino de Botin, comprovadamente instalado em 1725 num prédio que serviu de taberna desde o século 16. Próximo de completar 300 anos, dizem que foi frequentado por Goya.
Em São Paulo, pelo contrário, é difícil que um restaurante dure muito tempo. A cidade está em permanente movimento e locais que eram considerados privilegiados, entram em decadência em poucas décadas. Foi o que aconteceu com o comércio que ocupava o Centro Velho, que depois se transferiu para o Centro Novo e a seguir para a Paulista, Faria Lima e agora está espalhado por quase toda São Paulo, se transformando a cada mudança. Pouca coisa é permanente numa cidade que muda a cada dia.
Uma das raras exceções é o “Ponto Chic”, bar e restaurante inaugurado em 1922 no Largo do Paissandu. Ocupando um casarão de 3 andares, permanece firme no seu sitio original graças a um sanduíche diferente e exclusivo, o Bauru. Inventado nos anos 30 por um estudante da Faculdade de Direito chamado Casimiro Pinto Neto. O lanche caiu no gosto do público e se mantém até hoje. Totalmente diferente dos sanduíches comuns, junta rosbife, queijo derretido, pepino em conserva e tomates. Graças a essa receita simples mas inusitada, o restaurante está há 96 anos no mesmo local, com apenas um período de interrupção. É o único dessa época na cidade e viu passar por suas portas os jovens literatos da Semana de Arte Moderna, assistiu as agitações da Revolução de 32 e teve entre os seus frequentadores, Monteiro Lobato e Mário de Andrade, que na juventude morou no Paissandu. O Ponto Chic também foi vizinho do famoso circo do Piolin que ficava no Largo e era admirado pelos modernistas. A sua calçada foi durante muitas décadas, ponto de encontro dos artistas de circo que se reuniam ali todas as segundas feiras em busca de emprego e contatos.
No último sábado, saindo de uma palestra, fui comer no Ponto Chic. Apesar de tudo o que aconteceu por ali nos últimos tempos, o bar estava lotado e o Bauru bom como sempre.
São Paulo resiste!
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