A criadora da dança moderna visitou São Paulo e namorou o jovem Oswald de Andrade.
Quando veio a São Paulo de 1916, Isadora Duncan era um dos maiores nomes da dança e havia realizado uma carreira espetacular, desde que deixara os Estados Unidos, onde nasceu. Instalou-se em Londres em 1898 e nos primeiros anos do século 20 se tornou uma estrela internacional, percorrendo a Europa e a América em grandes turnês, que encantaram multidões de admiradores e muitos artistas, que como Rodin, fizeram dela tema de suas obras.
Oswald a conheceu no Rio de Janeiro, no hotel em Santa Teresa onde ambos se hospedaram. Ela estava iniciando a sua turnê pela América do Sul e seguiria depois para São Paulo e Buenos Aires. Ele passava uns dias no Rio para divulgar o seu primeiro livro, publicado em parceria com Guilherme de Almeida, duas peças curtas escritas inteiramente em francês. Eles se encontraram no restaurante do hotel e Oswald, atrevido, foi lhe oferecer um exemplar do seu livro. Queria também lhe apresentar uma jovem bailarina com quem estava envolvido, mas a estrela não lhe deu atenção. Disse-lhe que jovens bailarinas existiam aos milhares pelo mundo. Mas aparentemente se interessou por ele e o convidou para assistir aos seus espetáculos em São Paulo na semana seguinte.
Isadora deveria dar dois espetáculos no Municipal, no sábado e domingo, 1 e 2 de setembro de 1916. Mas devido ao sucesso acabou se apresentando quatro vezes, sendo a última com uma orquestra, organizada às carreiras, especialmente para tocar com ela. São Paulo, embora tivesse já um grande teatro, não possuía uma orquestra e as companhias de ópera estrangeiras que vinham aqui se apresentar traziam a sua própria orquestra. O resultado musical não foi dos melhores e conforme o crítico do Estado de S.Paulo, a bailarina não escondeu isso.
Depois de uma semana na cidade, partiu sem um tostão, segundo Oswald de Andrade que conta que ela, perdulariamente, gastou tudo o que ganhou aqui mesmo.
Bem, mas e o namoro com Oswald? O escritor conta no seu livro de memórias que foi visitar a dançarina no camarim do teatro e ela lhe pediu que a procurasse à noite, depois do espetáculo, no Grand Hotel de La Rotisserie Sportsman, o melhor hotel da cidade naquele tempo e que ficava junto ao viaduto do Chá, na Rua Libero Badaró. Oswald, que fez grande charme para contar a história disse que foi timidamente procurá-la, com receio de ser inconveniente ao bater no seu quarto num horário tão tardio. Ao entrar encontrou a mesa posta para a ceia e dois lugares. Achou que o pianista certamente jantaria com ela, mas para sua surpresa ele se retirou assim que Oswald entrou.
O jovem escritor, de 26 anos, conta que foi acompanhante da estrela enquanto ela esteve em São Paulo. Oswald às vezes exagerava os seus relatos e nem tudo o que ele escreveu é um registro fiel da realidade. Mas no caso de Isadora, é bem provável que tenha sido assim.
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