Numa era sem fake news muitos debates eram travados nas livrarias.
As duas maiores redes de livrarias brasileiras passam por dificuldades e uma delas pediu recuperação judicial há alguns dias. A crise que se espalha pelo setor livreiro alcança as editoras, que sem receber em dia, vão sendo obrigadas a reduzir os seus lançamentos. Quem gosta de livros se preocupa com isso e torce para que tudo passe rapidamente.
Mas São Paulo já viveu dias muito melhores nessa área. Durante todo o século que passou, as livrarias brilharam e a maioria não apenas vendia livros, mas eram também de pontos de encontro e troca de ideias que movimentavam a cidade.
Durante muito tempo a Casa Garraux foi a livraria mais importante da cidade. Depois de circular por vários endereços, se fixou na rua Quinze de Novembro onde se tornou, por décadas, a principal livraria da cidade. Era a primeira a receber as novidades que vinham de Lisboa e de Paris, já que a maioria da elite leitora nos inícios do século 20 sabia francês e consumia avidamente não só os livros, mas também as revistas francesas de modas e atualidades. Em nenhuma casa de família que se considerasse culta podia faltar a Revue de Deux Mondes ou L’Illustration, vendidas assim que chegavam na Garraux.
Mais tarde surgiu a Livraria Teixeira, que passou também por vários endereços e marcou época na Rua Marconi, onde dividia a clientela com a Jaraguá que pertenceu à família Mesquita e onde se reuniam os intelectuais que passavam pela cidade e era frequentada por Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade, Flávio de Carvalho e muitos outros. Ali bem perto, na rua Barão de Itapetininga, foi fundada em 1943 a Brasiliense, por Monteiro Lobato e Caio Prado, como casa editora e livraria. Também reunia intelectuais principalmente universitários e nos anos 70 e 80 era a maior livraria da cidade. Tendo a vantagem de ter Caio Prado frequentemente presente, atraia professores e estudantes da USP que se reuniam principalmente aos sábados. Durante o regime militar era quase um aparelho comunista, pois a maioria dos membros do antigo Partidão batia ponto por ali, numa atividade que não tinha nada de clandestina e era quase festiva.
Atualmente as livrarias perderam um pouco essa característica de centro de debates, substituídas pelas redes sociais e de mensagens. Mas ao contrário de hoje, nelas não havia como divulgar fake-news. As novidades, verdadeiras ou simples boatos, eram debatidos ao vivo e na hora. Além do que, se podia pegar os livros com a mão, sentir o cheiro da tinta nova, folhear e ler uns trechos. No mínimo se podia ler as orelhas dos últimos lançamentos, o que às vezes era o suficiente para alimentar mais uma discussão.
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