As enchentes sempre fizeram parte da história da cidade
As chuvas castigam São Paulo todos os anos, principalmente no verão.
As enchentes são comuns, como é comum, também, o hábito dos paulistanos atribuírem as inundações à prefeitura, aos políticos e à ocupação desordenada da cidade, à invasão das várzeas dos rios e, mais recentemente, às mudanças climáticas e ao aquecimento global.
Mas o passado de São Paulo nos conta outra história.
As chuvas e as inundações são uma constante em todos os relatos sobre a cidade desde a sua fundação. Até mesmo o padre Anchieta, que fundou a Vila, reclamou da violência do tempo numa época em que São Paulo ainda era habitada somente pelos índios e uns poucos jesuítas.
Em uma carta de 1560, ele conta que “com os trovões tremem as casas, caem as árvores e tudo se conturba. Em meia hora (que não durou mais) é de espantar quanta devastação produziu em árvores e casas; e na verdade se Deus não abreviasse aquele tempo, nada poderia resistir e tudo se arrasaria.” O resultado “eram as enchentes dos rios e as grandes inundações dos campos”.
Em 1835 a Assembleia Provincial já discutia a possibilidade de “encanar ou mudar o rio Tamanduateí” para livrar a cidade das enchentes e desde então todos os anos na mesma época, os jornais traziam inúmeras notícias sobre o efeito das chuvas de verão. Esse fenômeno era tão constante que foi frequentemente documentado e até Benedito Calixto, um dos mais importantes artistas de São Paulo, pintou um dos seus quadros mais belos e famosos retratando justamente a enchente de 1890 na Várzea do rio Tamanduateí na zona central. A obra causou tanto impacto que acabou comprada pelo governo por 10 contos de réis e depois incorporada ao acervo do Museu do Ipiranga.
Com o crescimento e ocupação do território da cidade o problema não diminuiu, ao contrário e hoje qualquer paulistano sabe que tem de ficar atento se o tempo fecha e a chuva ameaça.
Mas se você que está no trânsito engarrafado por causa das chuvas reclamando da prefeitura, talvez seja melhor lembrar-se do Padre Anchieta, pois foi ele, afinal, quem nos pôs aqui, a mercê das tempestades e das trovoadas.
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