Há 100 anos a arte moderna se inaugurava em São Paulo.
Há exatos 100 anos uma jovem paulistana deu início a um movimento de transformação que alterou profundamente a cultura brasileira pelas décadas seguintes. Ela se chamava Anita e era uma típica moça paulistana, filha de imigrantes. Seu pai era um engenheiro italiano e sua mãe filha de um alemão e de uma norte americana, mestiça de pele vermelha. Uma mistura daquelas que só acontecem em São Paulo.
O pai morreu cedo e a família enfrentou dificuldades. Mas mesmo assim ela conseguiu estudar na Europa. Muito jovem ela foi para a Alemanha e depois para os Estados Unidos. Lá tomou contato com os movimentos artísticos mais avançados e ao retornar ao Brasil, sua pintura mostrava a marca dessas influências. Em 12 de dezembro de 1917 abriu uma exposição com os seus trabalhos, num salão da Rua Líbero Badaró.
Não foi a primeira exposição de arte moderna feita em São Paulo. Lasar Segall, um imigrante lituano que veio a São Paulo visitar os irmãos e ficou pouco tempo por aqui, expôs em 1913, uma pintura claramente expressionista, como estava em voga na Europa. Mas ele não tinha ainda muitas ligações na cidade e o evento não repercutiu.
Anita Malfatti ao contrário, utilizou todas as suas conexões pessoais e familiares e levou boa parte da elite política e cultural da cidade para ver a sua exposição. Porém a repercussão talvez não tivesse sido tão grande se o escritor Monteiro Lobato, não resolvesse escrever um artigo no Estado, demolindo a pintura não acadêmica e figurativa e, por consequência, a exposição da pobre Anita. Ele, que frequentava a garçonière de Oswald de Andrade e era amigo da maior parte dos jovens intelectuais que mais tarde iriam organizar a Semana de 22, detestava a pintura moderna e nessa época estudava desenho e fazia aquarelas muito corretas e delicadas.
O artigo ficou conhecido por uma expressão que Lobato usou lá pelo meio do texto: “Paranóia ou Mistificação” e provocou uma resposta de Oswald de Andrade, seu amigo, no Jornal do Comercio, dias depois. Nenhum dos dois conhecia bem Anita. Nem Mário de Andrade, que se apresentou a ela na exposição. Di Cavalcanti, que também foi ver os trabalhos de Anita, e estava na cidade para estudar Direito. Menotti del Picchia nesse momento ainda vivia em Itapira e Brecheret na Itália. Oswald e Mário de Andrade haviam acabado de se conhecer.
Com a exposição de Anita Malfatti, estava instalada a polêmica que uniu os modernistas. Cinco anos depois estariam todos juntos na Semana de Arte Moderna.
Poucos se lembram, mas em 12 de dezembro de 1917, há cem anos, o modernismo começou.
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