São João e Ipiranga reuniam os melhores cinemas da cidade.
Ir ao cinema sempre foi um dos programas favoritos dos paulistanos. À noite e principalmente nos fins de semana, viviam cheios e as filas nas portas eram comuns. E as melhores salas ficavam na região que ficou conhecida, nos anos 50, por Cinelândia e que tinha como eixos as avenidas Ipiranga e São João. Quase nenhum deles conseguiu sobreviver às mudanças na cidade e dos hábitos dos seus moradores. Mas a grande maioria dos espaços ainda está lá, vazios ou transformados em igrejas ou estacionamentos.
O cine Metro, um dos mais bonitos, foi inaugurado nos anos 30 e pertencia a Metro Goldwin Meyer. Era todo decorado num estilo entre mourisco e hollywoodiano, e nos anos 60, era famoso pelas matinês de domingo, com desenhos do Tom e Jerry que atraiam nuvens de crianças tomando conta das calçadas nos fins de semana de sol. Foi reformado nos anos 80 e perdeu a decoração espetacular que possuía. Em decadência, virou igreja.
Um pouco adiante, na avenida São João, ficava outra grande atração para a garotada dos anos 60 e 70. O Comodoro, único cinema da cidade com Cinerama, a coisa mais próxima da terceira dimensão que se podia obter naquela época. Durante anos exibiu sempre o mesmo filme: “As 7 Maravilhas do Mundo”. As multidões que lotavam o cinema, ano após ano, queriam mesmo é conhecer a maravilha do Cinerama. O filme podia ser sempre o mesmo porque ninguém se importava. Nos anos 70 foi reformado e recebeu um sistema de som moderníssimo chamado de Surround, que fazia as poltronas e o público tremerem. O filme de estreia do novo sistema não poderia ser outro! Era “Terremoto”, com Charlton Heston e grande elenco.
Em frente ao Cinerama ficava o cinema mais estranho da cidade e que durou relativamente pouco tempo. Era o Cinespacial que tinha uma plateia circular com três telas no centro, cada uma voltada para um setor da plateia. Não alterava em nada a projeção do filme, mas ir a uma com 3 telas parecia avançadíssimo e não houve fã de cinema que não tivesse ido experimentar.
Mas talvez o mais querido do Centro paulistano tenha sido o menor deles. Ficava na Praça Roosevelt e era com certeza o menor de São Paulo. Não comportava mais de 100 espectadores, mas lá eram exibidos os filmes mais cults da cidade. Era o Cine Bijou. Não houve estudante ou amante de cinema dos anos 60 e 70 que não o frequentasse. Lá se podia ver continuamente os filmes na “Nouvelle Vague” francesa, Godard, Resnais, Truffaut, além de filmes de arte poloneses, tchecos, italianos etc. Provavelmente nunca exibiu um filme americano, mas ninguém reclamava. Quem ia lá queria ver o que se fazia de mais moderno e revolucionário. Era o auge da ditadura e o Bijou era uma brecha de luz num tempo de escuridão.
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