Neste mês, revisite conhecidas obras da prolífica produção do compositor
Joseph Haydn (1732-1809) teve o gênio imenso de captar com extremo refinamento tendências que atravessavam a Europa – a do concerto na Itália, a do embrião da sinfonia em Mannheim -- para consolidar um dos gêneros mais importantes da música européia: a sinfonia. Com o quarteto de cordas, fez também algo semelhante: retirou-o da condição de música de salão e divertimento e transformou-o em verdadeiro laboratório criativo. Só por isso ele mereceria uma posição de pai fundador da moderna música européia.
Em vez disso, é injustamente visto como mero precursor de Mozart e Beethoven. Como julgar um compositor segundo parâmetros que lhe foram historicamente posteriores? Erro crasso, que já começou a se espalhar logo após sua morte, em 1809. A 200 anos de distância, sua verdadeira estatura como compositor só agora começa a emergir, a partir de pesquisas recentes: o mundo deixa de vê-lo como precursor e se emociona pela elevadíssima qualidade de sua música, além de uma originalidade extraordinária.
Publicamente, os últimos dois séculos enxergaram em Haydn apenas um predecessor -- talentosíssimos, é verdade -- de Mozart e Beethoven. Uma injustiça que não frutificou entre os músicos. Johannes Brahms, um dos mais rigorosos compositores do século 19, foi taxativo: “Que homem! Perto dele somos pobres-diabos!”. Ele se referia à inaudita capacidade de Haydn de absorver tendências musicais e fixá-las ao longo do tempo. E à grandiosidade de sua produção.
Isso aconteceu no domínio da sinfonia. É dele o mais imponente conjunto sinfônico da história da música: 104 obras que condensaram um tipo de música que estava no ar, mas ainda não havia sido codificada. Ouvi-las equivale a assistir ao parto da sinfonia, seu crescimento e clímax, sobretudo nas doze monumentais sinfonias londrinas finais.Ele desenvolveu e codificou a forma em quatro movimentos que prevalece até hoje; e além disso estabeleceu os parâmetros instrumentais da hoje familiar orquestra sinfônica clássica.
O caso dos quartetos de cordas é ainda mais estarrecedor. Ele criou o gênero praticamente do nada, na década de 1760. Ao contrário de outros domínios, como o da sinfonia, da música religiosa, da ópera e da sonata para teclado, em que historicamente já havia esboços, quando não modelos. A forma que Goethe chamou de “conversa musical a quatro” nasceu e consolidou-se com Haydn: dois violinos, uma viola e um violoncelo dialogam em pé de igualdade – ao contrário da música de salão e entretenimento chamada divertimento até então escrita para esta formação, em que o primeiro violino solava e os demais apenas acompanhavam.
Haydn, de fato, partiu do ‘divertimento’ para, nas obras de plena maturidade, instituir a forma-sonata e o desenvolvimento temático, dois conceitos criativos que dominaram a música posterior de modo avassalador. E fez este percurso em 68 quartetos de cordas, distribuídos entre 1760 e 1799 (ou 1802, se contabilizarmos o quarteto opus 103, que permaneceu inacabado).
Em 1776, Joseph Haydn escreveu uma curta autobiografia, a pedido do editor Ignaz de Luca, publicada dois anos mais tarde, e que talvez contenha uma de suas mais famosas frases, centenas de vezes citadas desde então. Exercendo uma vez mais a modéstia, atribuiu sua originalidade às condições de seu trabalho em Esterhazy: “Meu príncipe estava satisfeito com todas as minhas obras. E, como tinha a aprovação dele, e na condição de líder da orquestra, podia fazer experimentações, testar o que reforçava e o que enfraquecia um efeito sonoro. Experimentei, enfim, assumi riscos. Estava isolado do mundo; não havia ninguém por perto para me deixar inseguro ou me perseguir; foi por isso que me tornei original”.
Durante este mês, no Rádio Metrópolis e no Tarde Cultura, você vai passear por este gênio múltiplo da música, reouvindo obras familiares e também se surpreendendo com peças esquecidas. Sempre em performances exclusivas da Cultura FM, captadas em concertos ao vivo por toda a Europa.
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"Os Quartetos foram praticamente inventados pelo compositor austríaco Joseph Haydn, sendo seu estilo aplicado até hoje pelos compositores contemporâneos" diz o maestro
A segunda semifinal do Prelúdio 2015 traz mais quatro candidatos, que disputam por duas vagas na final: Gabriel Angeli, que vem de Poços de Caldas, toca o primeiro movimento do Concerto para trompete, de Joseph Haydn. O curitibano Samuel Junior toca o 1º movimento do "Concerto em Lá Maior", de Mozart Daiana Melo, a cantora de Belo Horizonte, apresenta "O Zittre Nicht" ária da ópera Die Zauberflote, de Mozart. E Vitor Zendron, que vem de Blumenau, toca o Concerto para piano e orquestra, de Chopin.
O trompetista toca o primeiro movimento do Concerto para trompete, de Joseph Haydn.
“Haydn ingressou no famoso coro dos meninos cantores de Viena, ele tinha então catorze anos de idade e já ganhava a vida dando aulas”, comenta o maestro
A 3ª Eliminatória, realizada no Theatro São Pedro, apresenta mais quatro candidatos: Gabriel Angeli, de 27 anos, vem de Poços de Caldas e toca o primeiro movimento do Concerto para trompete, de Joseph Haydn. Giovanna Finardi, de 19 anos, é de Jundiaí e toca o primeiro movimento do Concerto para piccolo e orquestra, de Antonio VIvaldi. Gabriel Trettel, de 21 anos, de Itú, toca o primeiro movimento do Concertino para trombone, de Ferdinand David. E o carioca Érico Bezerra, de 29 anos, toca o primeiro movimento do Concerto para piano em ré menor, de Amadeus Mozart.