A jóia secreta da música romena no século XX
O romeno Georges Enesco nasceu em 19 de agosto de 1881 na cidade de Liveni-Virnav (que hoje leva seu nome). Menino-prodígio, a família conseguiu levá-lo a Viena, onde fez seus estudos musicais. Lá estudou violino com Helmesberger e teoria com Fuchs, além de ter tido a chance de conhecer Brahms.
Na sequência, estudou no Conservatório de Paris, cidade na qual radicou-se e construiu toda a sua carreira. No conservatório, foi colega de classe de Maurice Ravel, e aluno de violino de Marsick; Massenet e Fauré deram-lhe aulas de contraponto e composição. Rapidamente fez fama internacional como grande virtuose e teve entre seus alunos Yehudi Menuhin, que sempre o considerou seu maior mestre. Enescu também foi excepcional pianista e ótimo maestro. Fez música de câmara com Alfred Cortot, Pablo Casals e Dinu Lipatti; fundou um quarteto de cordas com seu nome.
Sua produção total é de 32 opus. Pouco se pensarmos nos compositores dos séculos anteriores, como Haydn, Mozart ou Beethoven. Pra vocês terem uma ideia, Enesco é o Bartók da Romênia. Sua única ópera, Édipo, assim como sua produção camerística e sinfônica são injustamente desconhecidas fora das fronteiras de seu país.
Os anos 30 foram particularmente dolorosos para ele. Além de a década ser marcada pela gestação do ovo da serpente, o nazismo, que levou à Segunda Guerra mundial em 1939, ele viveu problemas familiares. Como violinista e maestro, tinha uma carreira gloriosa, aos 50 anos. Mas queria mesmo dedicar-se de modo exclusivo à composição. A criação de sua ópera “Édipo” em 1936 em Paris aplainou suas frustrações. Mas ela não teve vida longa nos palcos.
Hoje, a 63 anos de distância de sua morte, Enescu vive uma situação contraditória: como compositor, é praticamente desconhecido fora da Romênia. Fora de seu país, é basicamente lembrado pelas duas Rapsódias Romenas que emulam o frenesi e o vigor da música cigana em seu país. Em geral é lembrado como o mestre de grandes violinistas de gerações mais recentes, como Yehudi Menuhin, Christian Ferras, Ivris Gitlis, Arthur Grumiaux, Ginette Neveu e Ida Haendel – um “who’s who” do violino no século 20.
Um detalhe me chamou a atenção ao garimpar performances de obras de Enescu no riquíssimo acervo recente da EBU – a União das Rádios Europeias, com a qual a Cultura FM mantém intercâmbio. Os romenos cultuam Enescu como um dos mais altos patrimônios culturais do país. Neste mês, ouviremos trechos e movimentos de 42 obras do compositor, todas pinçadas de concertos do Festival Internacional Enescu de 2017, realizado no verão europeu, entre junho e setembro do ano passado, em Bucareste. E não estou falando de intérpretes romenos, ou de uma programação local. Vocês vão ouvir nomes reluzentes da vida musical internacional, como os maestros Zubin Mehta, Valery Gergiev, Antonio Pappano, Daniele Gatti e Riccardo Chailly; orquestras como a Filarmônica de Israel, a Royal Concertgebouw Orchestra, Academia de Santa Cecília de Roma e Orquestra do Scala de Milão, entre outroas; e, entre os grandes músicos individuais, violinistas como Maxim Vengerov e Patricia Kopatchinskaja; pianistas como Florent Boffard; violoncelistas como Truls Mork. Ou seja, um verdadeiro desfile dos maiores músicos da atualidade. E eles tocam... Enescu. Este é um efetivo projeto de valorização de seus artistas por parte da Romênia. Um gesto que deveria ser imitado por países como o Brasil, com tantos compositores merecendo maior divulgação internacional.
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