Um dos grandes da música do século 18
A figura de Johann Sebastian Bach é tão monumental que domina poderosamente a perspectiva com que vemos a vida musical europeia do século 18. Seus contemporâneos também eram músicos extraordinários. Atendem por nomes como Georg Friedrich Haendel, Domenico Scarlatti, Antonio Vivaldi – mas empalidecem à sombra de Bach.
Neste painel, Haendel venceu no domínio dos oratórios, com seu “Messias” à frente; Scarlatti com suas 555 levíssimas e lindas sonatas, curtas em um só movimento, para cravo; e Antonio Vivaldi foi até modelo de Bach em seus mais de 500 concertos, tendo alcançado fama notória com suas “Quatro Estações”.
Por tudo isso, o nome de Georg Philipp Telemann às vezes nem é lembrado como um dos grandes da música do século 18. Mesmo quando acontece uma efeméride importante, como a passagem dos 250 anos de sua morte, no próximo dia 25 de junho. Telemann foi uma figura dominante em sua longa vida. Quando nasceu, em 14 de março de 1681, Schütz morrera há menos de dez anos; morreu em 25 de junho de 1767, quando Haydn já havia escrito trinta sinfonias e dali a três anos Beethoven nasceria.
Existe muito pouca bibliografia analítica e histórica sobre Telemann. Poucos pesquisadores se debruçaram sobre sua obra. O primeiro livro traduzido para o inglês – a língua franca no mundo do século 20 – só foi publicado em 1974 (“Telemann”, de Richard Petzoldt, Ed. Ernst Benn, Londres). E o primeiro estudo mais alentado teve de esperar o século 21: é “Music for a mixed taste”, música para um gosto misto ou eclético, um estudo de 700 páginas sobre a música instrumental de Telemann por Steven Zolen, publicado em 2008 pela Oxford.
Se hoje se considera sua música superficial, banal, tediosa – uso adjetivos repetidos à exaustão por pesquisadores e musicólogos nas histórias da música -- , em seu tempo, no entanto, Telemann era rei.
Um episódio apenas marca esta posição privilegiada do compositor deste mês na Cultura FM: em 1723, os integrantes do Conselho da cidade de Leipzig o convidaram para ser o Kantor da Igreja de São Tomás. Mas, diante da falta de interesse de Telemann, optaram por Bach, dizendo: “Já que não pudemos ter o melhor, vamos nos contentar com o razoável”.
Os adjetivos duros que acabei de aplicar a Telemann devem-se, em parte, à abundância de sua produção: ele mesmo catalogou cerca de 6.000 obras, no final de sua vida. A listagem é impressionante: 12 ciclos anuais de 52 cantatas para os 52 domingos do ano. Isso dá uma cantata por semana durante 12 anos. Só de Paixões, são 45. Oratórios? 100. Óperas? 40. As chamadas overtures à francesa chegam a 600. Isso é muito mais do que Lully -- o inventor da fórmula da abertura de ritmos pontuados à qual se seguem danças -- e seus contemporâneos escreveram juntos. A música de câmara se conta às centenas. Centenas de sonatas, de trios, quartetos.
Poucos sabem, mas Telemann e Bach foram grandes amigos. Ele foi padrinho de Carl Philipp Emanuel, o segundo dos vinte filhos de Bach. E fundou, vinte anos antes de Bach chegar a Leipzig, o Collegium Musicum, um grupo que equivale a uma orquestra clássica, com até 50 músicos, para apresentações públicas no Café Zimmermann. Foi com este Collegium Musicum que Bach fez suas quatro ouvertures ou suítes orquestrais modernamente tão famosas, assim como as cantatas profanas com ao do Café, por exemplo. E Haendel também foi próximo de Telemann. Como sabia que o amigo gostava de botânica, Haendel costumava mandar de Londres curiosidades botânicas para Telemann. Este, aliás, quando dirigiu a música em Hamburgo fez questão de montar lá as óperas do amigo Haendel logo depois de suas estreias em Londres, nos anos 1720. Outra novidade que importou de Londres foram os concertos pagos com seu Collegium Musicum, que se realizavam em Hamburgo no átrio da Catedral da cidade às segundas e quintas-feiras.
Durante este mês, vamos explorar um pouco da criatividade oceânica de Telemann. E trazer à tona algumas gemas de suas 6.000 obras e, sobretudo, interpretações de primeira linha de sua obra.
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