Entre o sucesso em Hollywood e o desejo de vencer nas salas de concerto
O vienense Erich Wolfgang Korngold foi um ótimo compositor europeu do século 20 que no entanto acabou eclipsado por nadar contra a corrente em vários momentos de sua vida, dividida entre Viena e os Estados Unidos.
Seu pai Julius Korngold nasceu em 1860, mesmo ano em que nasceu Gustav Mahler. Reinou por 32 anos, entre 1902 e 1934, como todo-poderoso crítico do maior jornal vienense da época, “Neue Freie Presse”. De seu espaço privilegiado, fez de tudo para destruir as vanguardas representadas por Arnold Schoenberg, Alban Berg e Anton Webern, de um lado; e, de outro, promoveu com determinação a música de Mahler num momento em que o compositor era mais visto como maestro do que como criador musical.
O sonho de ter um filho que tivesse gênio para a música concretizou-se quando percebeu o imenso talento musical precoce de Erich, nascido em 29 de maio de 1897. Imaginou para ele uma carreira musical fulgurante. Assim, deu-lhe o nome de Erich Wolfgang Korngold – e vocês já estão adivinhando por quê. Sim, foi uma maneira de dizer que seu filho Erich era um novo prodígio, tal como o também austríaco Mozart no século 18. Usou seu espaço no jornal para divulgar o filho, ao mesmo tempo que defendeu a tonalidade. Era, portanto, um crítico musical conservador.
O menino era de fato prodigioso. Aos 9 aninhos de idade, tocou uma composição sua, uma cantata, para Gustav Mahler, então o todo-poderoso diretor da ópera de Viena, que por sua vez tinha no pai Julius seu maior defensor na imprensa austríaca. Mahler adorou, chamou-o de “gênio” e sugeriu a Julius que o menino tomasse aulas com Alexander Zemlinsky, seu cunhado e professor de composição no Conservatório local.
Aos 13 anos, Korngold estreou um balé; aos 14 compôs uma abertura sinfônica. O menino tinha mesmo, não um futuro mas já um presente brilhantíssimo. Escreveu duas óperas até os 19 anos, em 1816; aos 23 anos, conquistou prestígio internacional com a ópera “Die Tote Stadt”, A Cidade Morta. A propósito, o libreto foi escrito por seu pai Julius com pseudônimo. Este, por sinal, encantado com o talento lírico do filho, levou-o à Itália tentando que Puccini lhe desse aulas. O autor de Manon Lescaut e da Tosca, entre outras obras-primas líricas, respondeu o seguinte: “O rapaz tem tanto talento que bem me poderia dar algum e ainda ficar com o bastante para si próprio”.
Em Viena, o grande crítico demolia quem não abrisse espaço para o filho. Richard Strauss sofreu uma campanha infame de Korngold, o pai, nas páginas da Neue Freie Presse. O caso foi tão ridículo e maldoso que Erich acabou marginalizado. Compôs operetas, um gênero então tido como menor. A crise dos anos 1930 e a ascensão do nazismo fizeram o resto.
Convidado a compor uma trilha de cinema em Hollywood em 1934, Korngold mudou-se para os EUA e se impôs como um dos grandes no domínio das trilhas sonoras. Ganhou Oscars, fez escola. Após a Segunda Guerra, a saúde debilitada o impediu de voltar a Viena e realizar seu maior desejo: mostrar sua música nas salas de concerto europeias. Ninguém mais compunha música tonal por lá. As vanguardas dominavam a opinião pública e a vida musical. De novo marginalizado, morreu desgostoso em Hollywood em 29 de novembro de 1957.
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