Hugo Wolf, o último gênio do lied
Ele compôs mais de 200 canções em apenas quatro anos.
Hugo Wolf morreu vinte dias antes de completar 43 anos, em fevereiro de 1903, num sanatório nos arredores de Viena. É basicamente conhecido por cerca de 200 refinados lieder criados entre 1888 e 1891. Ele colocou música refinada a serviço de poetas como Eichendorff, Möricke e Goethe. Também dois ciclos, as canções espanholas e as canções italianas, estão entre os mais preciosos produzidos num arco de pouco mais que um século, entre Schubert e Richard Strauss. Foi o que durou esta forma tão caracteristicamente alemã.
Só isso já o coloca ao lado dos grandes cultores do gênero, com Schubert e seus cerca de 650 lieder à frente, e Robert Schumann com seus 250. Wolf, aliás, tinha afinidades estéticas e biográficas com Robert Schumann. O autor do “Liederkreis” era um de seus modelos (os outros eram Liszt e Wagner). Biograficamente, ambos contraíram sífilis e morreram loucos em sanatórios.
A semelhança menos conhecida é que ambos fizeram crítica musical. Nos anos 1830, Schumann dominou a cena germanófila. Manteve cerrada guerra pela música nova em sua revista musical, que durou dez anos; revelou ao mundo o jovem Brahms.
Wolf era wagneriano a ponto de praticar até o vegetarianismo pregado pelo mestre de Bayreuth, assim como o antissemitismo. Também lutou pela música nova entre 1884 e 1887, quando manteve um rodapé semanal no “Wiener Salonblatt”, jornalzinho de variedades vienense, e guerreou pela música do futuro de Liszt e Wagner contra o crítico Eduard Hanslick, defensor da música pura e fiel escudeiro de Brahms.
Sua loucura, que o levou ao intermanento num sanatório em seus últimos oito anos de vida, foi o sintoma final de uma sífilis terminal. Na expressão de sua biógrafa francesa Stéphane Goldet (em “Hugo Wolf”, Editora Fayard, Paris, 2003), “o artista atravessou a vida como se a realidade material das coisas não tivesse no fundo nenhuma importância, como se só contassem para ele a música e o ideal que ele se esforçava para atingir”. Fora três amores arrebatados e alguns amigos, a vida de Wolf resume-se a suas composições. Sem a ajuda dos amigos, certamente teria sido um mendigo, afirma sua biógrafa. Goldet o chama de “um segundo Schubert”.
Este é o compositor deste mês na Cultura FM. Ao longo deste mês, vamos passear por sua obra maior, as canções, mas também mostrar outras criações raras, que nunca frequentam as salas de concerto e nem mesmo apresentações camerísticas ou recitais de piano. Esta é, portanto, uma viagem de descoberta.
Ainda por cima, Wolf teve o azar de nascer em 1860, no mesmo ano e cidade de Gustav Mahler. Assim, as datas redondas que costumam render a execução das obras dos compositores homenageados não acontece com ele. Todos se lembram da overdose Mahler em 2011, no centenário de morte de Mahler; e todos se lembram também de outra overdose Mahler nos 150 anos de seu nascimento, em 2010. De Wolf, ninguém falou ou tocou absolutamente nada.
No ar de segunda a sexta-feira dentro do Rádiometrópolis (9h) e Tarde Cultura (15h)
Apresentação: João Marcos Coelho
Produção: Bruno Lombizani
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