Duke Ellington: Um gênio sem fronteiras
A música de Duke Ellington (1899-1974) dominou sem contestação o universo sonoro mundial durante mais de meio século, a partir de 1927. São, em números redondos, oitenta anos de hegemonia. Oito décadas durante as quais sua orquestra sobreviveu incólume e hoje paira acima do bem e do mal. Tamanha coerência não só artística como familiar -- o filho Mercer pegou o bastão da big band entre 1974, data da morte do Duke, e 1996, quando o próprio Mercer morreu subitamente e o neto Paul Mercer assumiu a liderança do grupo, que hoje combina três gerações de músicos no mesmo palco. Durante os seus últimos vinte anos à frente da orquestra, Duke viabilizou-a graças a seus direitos autorais, asseguram vários estudiosos de sua vida e obra.
Tudo começou quando os pais de classe média, em Washington, colocaram o menino Edward Kennedy Ellington diante de um piano. "Eu tinha outros planos", diz Ellington. "Queria ser arquiteto, mas o piano falou mais alto".
O adolescente que ganhou rapidamente o apelido de Duke pela elegância com que se vestia e os gestos sofisticados jamais frequentou conservatórios nem fez estudos regulares de música. Aprendeu na noite, primeiro em Washington, depois no Harlem nova-iorquino.
Os anos no Cotton Club, a partir de 1927, imortalizados no filme de Francis Ford Coppolla, o estilo "jungle", os arranjos diferentes de Ellington e os notáveis solistas encarregaram-se de lhe conceder a primazia inconteste no "hot jazz" dos anos 30.
As temporadas na Europa, a começar da Inglaterra, foram importantes para avalizar a importância de sua música. O jazz eminentemente popular nos Estados Unidos ganhava carta de nobreza da Europa, com direito a artigos assinados por compositores e maestros da grande música, como Constant Lambert, Ernest Ansermet. Até mesmo criadores do nível de Stravinsky e Ravel nutriram-se do jazz à imagem e semelhança daquele criado por Ellington.
Um de seus biógrafos afirma que o instrumento de Ellington não era o piano, mas sim a orquestra. Grande verdade, já que ele compunha para cada solista com uma adequação inédita. O Duke ia fundo ao assimilar fraseados e preferências harmônicas de um Bubber Miley, Joe Tricky Sam Nanton, Harry Carney, o inefável e melífluo sax-alto de Johnny Hodges, o delirante improvisador Paul Gonsalves. E Cootie Williams, o trompetista capaz de emitir os sons mais agudos do instrumento? E a genial parceria com o contrabaixo do adolescente Jimmy Blanton, de 19 anos, entre 1939 e 1941, jamais ultrapassados por nenhuma outra big band? E o sax rugoso e sensual de Bem Webster?
Para estes, e muitos outros músicos notáveis, o Duke e seu alter-ego Billy Strayhorn compuseram temas que não são apenas de excelente fatura harmônica, melódica ou rítmica. Eles são, acima de tudo, praticamente uma segunda pele musical para cada um deles espraiar formidáveis improvisos.
"Ellington é o que o jazz é. Sua música soa como a América". As palavras de Wynton Marsalis, um dínamo cultural que toca a Lincoln Center Jazz Orchestra e faz do Duke uma fonte inesgotável para ele e seus comandados, não são ocas. Elas refletem o respeito, a admiração e a paixão sem limites por um homem que, em 75 anos de vida, compôs mais de 3.000 músicas, trilhas sonoras para o cinema e tem seu nome estampado em cerca de 1.500 CDs diferentes, praticamente tudo disponível em streaming.
No ar de segunda a sexta-feira dentro do Rádiometrópolis (9h) e Tarde Cultura (15h)
Apresentação: João Marcos Coelho
Produção: Bruno Lombizani
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