É o que propõe o excepcional pianista turco Fazil Say em integral lançada este ano
O pianista turco Fazil Say, de 50 anos, é um dos músicos mais originais da cena internacional. Compõe sinfonias de tinturas folclóricas turcas e forte engajamento político. Say é ferrenho opositor do regime autoritário de Ordogan, na Turquia. Utiliza, em suas sinfonias, instrumentos típicos da região e uma linguagem tonal. Não quer revolucionar a música, mas sim marcar posição política e fazer música acessível ao grande público.
Em primeiro lugar, porém, ele é um pianista excepcional, capaz de imprimir uma marca pessoal em suas interpretações, mesmo de obras que já tenham sido registradas em disco centenas de vezes. É o caso da sua integral das 32 sonatas de Beethoven, série de oito CDs lançados pela Warner Classics no primeiro semestre deste ano.
Ao longo de 2020, os ouvintes da Cultura FM vêm tendo acesso a cada um dos álbuns desta notável integral. E nesta semana, Say nos oferece sua leitura das sonatas no. 8, a célebre Patética, e as duas do opus 14.
Beethoven compôs a Patética em 1797 e 1798. O apelido foi proposto pelo editor, e aceito pelo compositor. Aliás, o apelido completo é “Grande Sonata Patética”. Apenas cinco anos depois da publicação de “Sobre o Patético”, de Friedrich Schiller (sim, é o Schiller dos versos presentes na “Ode à Alegria” da Nona Sinfonia) -, é claro que Beethoven leu a obra que pregava uma atualização dos gêneros antigos da tragédia e da ode. O sucesso público da sonata na época deve-se a este vínculo dela com a obra de Schiller. A palavra grega significa um sofrimento particular, uma mistura de medo, terror e sinistra tristeza – sofrimentos, enfim, que apenas as grandes almas podem sentir.
A sonata encaixa-se nesta descrição, a começar pela tonalidade dó menor, usualmente empregada para designar sofrimento moral ou luto. Também o Grave que abre a sonata é uma transgressão. Somente as sinfonias podiam iniciar-se assim – como as de Haydn. Beethoven observou tudo isso, a fim de atender a uma demanda do público vienense por obras musicais encaixáveis na categoria do sublime. Percebe-se tudo isso não só na escrita de Beethoven, mas no modo como Say a interpreta.
As duas sonatas opus 14 são contemporâneas da Patética e muito contrastantes em relação a ela. Aqui Beethoven propõe duas alternativas ao formato da sonata para piano. Na primeira, foca nos elementos de construção e tratamento do material; na segunda, explora as múltiplas sonoridades proporcionadas pela escrita.
FAIXAS
Sonata no. 8 em dó menor, opus 13, “Patética”:
1. Grave – Allegro di molto e con brio
2. Adagio cantábile
3. Rondo (Allegro)
Sonata no. 9 em mi maior, opus 14, no. 1:
4. Allegro
5. Allegretto
6. Rondo (Allegro comodo)
Sonata no. 10 em sol maior, opus 14, no. 2:
7. Allegro
8. Andante
9. Scherzo (Allegro assai)
CD Warner Classics, 2020.
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