Cinco obras, entre elas a primeira gravação mundial do Trio n°2, pelo Trio Puelli
O pianista e compositor gaúcho Radamés Gnattali (1906-1988) não chegou a desfrutar em vida o merecido prestígio por causa de uma visão tacanha e preconceituosa, sobretudo da tribo erudita. Só porque ele foi um dos maiores mestres da orquestração popular no país; só porque teimou em não ser um sujeito bem comportado, segundo as regras convencionais.
Ao ouvir seu nome, há quem o ligue ao diretor musical da Rádio Nacional do Rio de Janeiro por mais de trinta anos, autor do arranjo de “Aquarela do Brasil” de Ary Barroso. Um arranjo que é, como escreve Irineu Franco Perpétuo no texto do encarte do CD desta semana, “cartão-postal musical da nação”. Ou então há os que o viram em ação num visionário trio de jazz, com Luís Americano e Luciano Perrone, entre os anos 1930 e 1940. Poucos lembrariam de como sua criação mais “adequada”, digamos, para as salas de concerto é de qualidade superior.
Pena, porque vivo fosse ele soltaria uma risada ao ver como as coisas mudaram nestes trinta anos que nos separam de sua partida. Hoje, seu “Concerto Carioca”, vaiado em 1969 no Festival da Guanabara, é elogiado justamente pela postura inclusiva, que sempre foi a sua, independente de modismos (e olhem que ele viveu num tempo em que as vanguardas serialistas, de um lado, e o nacionalismo estreito, de outro, patrulhavam qualquer um que não rezasse por suas cartilhas).
Tudo isso só torna ainda mais importante o CD desta semana, do Trio Puelli – formado por Ana de Oliveira ao violino, Karin Fernandes ao piano e Adriana Holtz ao violoncelo --, dedicado à integral de suas peças para a formação piano-violino-violoncelo. Cinco obras – três trios, um trio miniatura e uma pela isolada – em princípio é pouco. Mas quando se fala de Radamés, nada é supérfluo. Ele sempre tem o que dizer. Experimente ouvir “movido”, o primeiro movimento do Trio no. 1, de 1933: você vai se encantar com a “levada”, a ginga que faz a música flutuar. Ou então o Allegro moderato que abre o trio no. 2, de 1967, com uma cantilena às vezes melancólica, às vezes mais determinada. Ou a encantadora Seresta, movimento intermediário do Trio no. 3, de 1984.
O Trio Puelli teve a ajuda de Roberto, sobrinho de Radamés, para recuperação de partituras e manuscritos. Foi assim que se descobriram os manuscritos em péssimo estado do Trio no. 2, gravado pela primeira vez.
FAIXAS
Trio no. 1 (1933):
1. Movido
2. Calmo
3. Mesmo tempo
Trio no. 2 ( 1967):
4. Allegro moderato
5. Tristonho
6. Lento – Ritmado
Trio no. 3 (1984):
7. Allegro moderato
8. Seresta
9. Alegre
Trio Miniatura (1940):
10. Alegre
11. Lento
12. Vivo
13. Lenda no. 2 (1937)... 4’
Gravado no Auditório Zequinha de Abreu da EMESP Tom Jobim, São Paulo, em setembro de 2017.
CD Selo SESC, 2018
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