Cantando Strauss, Debussy e Jake Heggie acompanhada pelo Brentano Quartet
A mezzo-soprano norte-americana Joyce DiDonato completou 50 anos em fevereiro passado – e continua, mais do que nunca, inovadora, atrevida, ousada – e excepcional cantora, como comprovou há algumas semanas na Sala São Paulo, no espetáculo Guerra e Paz, ao lado do também premiado grupo Il Pomo d’Oro.
É dela o CD desta semana. Como sempre, tudo que Joyce faz tem diferenciais. Aqui, ela convocou o quarteto de cordas Brentano – formado por Mark Steinberg e Serena Canin aos violinos, Misha Amory à viola e Nina Maria Lee ao violoncelo. O primeiro violino Mark encarregou-se dos arranjos para quarteto de cordas das partituras originais que preveem piano.
E o resultado é arrebatador. O título deve-se ao ciclo “Camille Claudel: Into the Fire”, composto por Jake Heggie – um dos mais bem-sucedidos compositores norte-americanos da atualidade, de 58 anos – sobre textos de Geme Scheer. Camille Claudel (1864-1943), escultora de talento, amante do escultor Rodin e irmã do poeta Paul Claudel, foi confinada a um hospital psiquiátrico em 1913 depois de ter sido diagnosticada como esquizofrênica. Muitos duvidaram do diagnóstico. Heggie é um destes, e o ciclo imagina Camille em seu derradeiro dia de liberdade, contemplando sua obra, e obsessivamente revivendo o colapso de seu caso amoroso com Rodin. A canção final a flagra em 1929, quando Camille recebe a visita do escultor inglês Jessie Lipscomb, um dos que sempre acreditaram em sua sanidade mental.
É inegável o impacto do tema escolhido por Heggie, que usa melodias longas, pianíssimos imaculados – terreno ideal para a flexibilidade e universo expressivo de Joyce.
Além deste ciclo, ela interpreta maravilhosamente meia dúzia de lieder de Richard Strauss, um dos mestres supremos do gênero, entre eles “Morgen” e “Die Nacht”. Um momento memorável também acontece no belo arranjo feito por Mark Steinberg para quarteto de cordas nas três Canções de Bilitis de Debussy. O Quarteto Brentano, aliás, faz um intermezzo instrumental bastante original: o movimento isolado Molto Adagio, sempre cantante doloroso, de 1889, do belga Guillaume Lekeu, um criador musical refinado que viveu pouco, só 24 anos entre 1870 e 1894.
FAIXAS
Richard Strauss (1864-1949): transcrições para voz e quarteto de cordas:
1. Du meines Herzens Krönelein (II)
2. All mein’ Gedanken (I)
3. Die Nacht op. 10 no. 3
4. Ach Lieb, ich muss nn sheiden op. 21
5. Traum durch die Dämmerung op., 29
6. Guillaume Lekeu (1870-1894) : Molto adagio, sempre cantante doloroso (quarteto) – 11’20
Claude Debussy (1862-1918): 3 chansons de Bilitis:
7. La Flûte de Pan
8. La chevelure
9. Le tombeau des náiades
Jake Heggie (1961): Camille Claudel: Into the Fire (2012):
10. Prelude – awakening
11. Rodin
12. La Valse
13. Shakuntala
14. La petite chätelaine
15. The gossips
16. L’age mûr
17. Epilogue–Jessie Lipscomb visits Camille Claudel,Montdevergues Asylum
18. Richard Strauss: Morgen op. 27, no .4
19. Franz Xaver Gruber (1870-1894) (extra): Silent Night
Joyce DiDonato (mezzo-soprano) e Quarteto de cordas Brentano
Gravado em 21 de dezembro de 2017, no Wigmore Hall em Londres.
CD Warner Classics, 2019.
O cmais+ é e reúne os canais TV Cultura, UnivespTV, MultiCultura,
TV Rá-Tim-Bum! e as rádios Cultura Brasil e Cultura FM.
Visite o cmais+ e navegue por nossos conteúdos.
Compartilhar