De Villa-Lobos, escritos na década de 1950, em leitura do Quarteto Bessler-Reis
O violoncelista Alceu Reis é o único músico que toca em todos os 17 quartetos de cordas de Villa-Lobos relançados ano passado em caixa com 6 CDs pelo Selo SESC. Alceu estudou com Iberé Gomes Grosso e depois com o francês Pierre Fournier. Foi durante muitos anos primeiro violoncelo da Orquestra Sinfõnica do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, e entre 2002 e 2005 foi primeiro violoncelo convidado da Osesp.
Como integrante do Quarteto Bessler-Reis, gravou para o selo carioca Kuarup de Mário Aratanha, na passagem das décadas de 80 e 90, os quartetos 1 a 6 e 12 a 17. Em 1996, o então recém-criado Quarteto Amazônia, do qual Reis participava e que tinha Cláudio Cruz como primeiro violino, gravou os quartetos de 7 a 11.
Esta integral chegou a circular em CDs isolados, mas logo se esgotou. Ao ser recolocada no mercado brasileiro pelo Selo SESC, constitui um passo para que o público tenha uma compreensão mais adequada da importância deste imponente grupo de obras que tem pouca visibilidade pública na produção do maior compositor brasileiro. Por dois motivos: de um lado, as execuções de alto nível; de outro, o texto precioso de Paulo de Tarso Salles, especialista na obra de Villa-Lobos.
Assim como tinha feito com Bach na incrível série das Bachianas Brasileiras, Villa-Lobos pensou em Haydn, o inventor do gênero, nos quartetos de cordas. Mas Haydn não tem modernamente o mesmo prestígio de Bach. Se em seu tempo foi unanimidade como o maior compositor, a posteridade lhe tem sido cruel. Primeiro pela imagem do compositor ingênuo, “Papa Haydn”. Depois por ser visto como mero predecessor dos gênios Mozart e Beethoven. “Enquanto a menção a Bach no projeto composicional das Bachianas era vista de maneira positiva”, escreve Salles, “as coisas foram diferentes em relação à suposta influência de Haydn nos quartetos de Villa-Lobos, pois o compositor austríaco era ainda considerado um caso historicamente localizado, sem conexão direta com a música composta no século XX. Trata-se de dois tipos diferentes de elaboração ‘neoclássica’ na obra villalobiana, recebidos de maneira oposta pela musicologia até meados dos anos 1980”.
No CD desta semana, volume 5 desta integral, você vai ouvir o Quarteto Bessler-Reis interpretando os quartetos nos. 12, 13 e 14, escritos entre 1950 e1953. Quando compôs o Quarteto no. 12, em 1950, Villa-Lobos já se tratava do câncer diagnosticado em 1948, mas o tom da obra, diz Salles, é afirmativo. Como em outros quartetos da maturidade, Villa às vezes retoma temas que frequentaram quartetos anteriores. É o caso do Allegro inicial do Quarteto no. 12, em que, entre outros motivos, ele constrói um motivo que remete ao concerto para violão orquestra daquele mesmo ano, 1950; no Andante melancólico, ele cita uma canção folclórica, “Anquinhas”; o Allegretto leggiero é de certo modo tributo a Haydn e Beethoven, pois Villa o usa como scherzo. No Scherzo vivace do quarteto 13, ele brinca com uma tarantela. Já o Adagio evoca o tema de Xangô do movimento lento do quarteto no. 4. Arnaldo Estrella chama o Allegro do quarteto no. 14 de ”quarteto das quartas” devido “à verdadeira cadeia de quartas justas ouvidas vertical e/ou horizontalmente por todo o primeiro movimento” (Salles). Monumentos da maturidade do nosso maior compositor.
O Quarteto Bessler-Reis é formado por Bernardo Bessler e Michel Bessler aos violinos; Marie-Christine Springuel à viola; e Alceu Reis ao violoncelo.
FAIXAS
Heitor Villa-Lobos (1887-1959):
Quarteto no. 12 (1950):
1. Allegro
2. Andante melancólico
3. Allegretto leggiero
4. Allegro (Bien rhythmé)
Quarteto no. 13 (1951):
5. Allegro non troppo
6. Scherzo (Vivace)
7. Adagio
8. Allegro vivace
Quarteto no. 14 (1953):
9. Allegro
10. Andante
11. Scherzo (Vivace)
12. Molto allegro
Gravado em DAT no Multi Studio em julho de 1991 (no.s 12 e 13) e nos Studios Master, em julho de 1989 (no. 14), Rio de Janeiro.
Selo SESC, 2017.
O cmais+ é e reúne os canais TV Cultura, UnivespTV, MultiCultura,
TV Rá-Tim-Bum! e as rádios Cultura Brasil e Cultura FM.
Visite o cmais+ e navegue por nossos conteúdos.
Compartilhar