Em primeira gravação mundial com a pianista Maria Josephina Mignone, aos 96 anos
Eles nasceram no mesmo dia, um 3 de setembro. O ano era 1897; a cidade São Paulo; o bairro, o italianíssimo Brás. Compartilhavam também o mesmo prenome, Francisco. Mudava só o sobrenome: num era Mignone, noutro Bororó. Mignone permaneceu Francisco, mas era irresistível chamar Bororó de Chico. Ambos estudaram flauta já em casa, pois o pai Alfério ganhava a vida tocando e dando aulas. Dividiram-se aos 18 anos, seus destinos se dividiram: Francisco foi admitido no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, na avenida São João, onde estudou harmonia, contraponto e composição, além de flauta com seu próprio pai Alfério, então professor por lá. Como colega das aulas coletivas, Francisco teve Mário de Andrade, imaginem.
Chico, de seu lado, preferiu aprender encantadoras ruas do Brás, fazendo serenatas para as meninas donzelas integrando grupos de chorões; e compôs, compôs bastante. Mais de 120 valsas para piano, além de canções que caíram no gosto do povo. Cateretês, maxixes, foxtrotes, valsas, canções de ninar, sertanejas e caipiras que ganharam o luxo de terem sido gravadas por Francisco Alves, o rei da voz: em 1928, o cantor, que também era chamado de Chico Alves, gravou “Doce Mandinga”; e dois anos depois “Miami”, entre outras. Esta última não remete ao paraíso da terceira idade na Flórida, mas sim à fabricante de cosméticos Miami: a letra reverencia os armas de uma cidade com palmeiras e praias de beleza sem fim.
Nosso Francisco, que menino ainda já sabia óperas inteiras de cor, partiu para estudos na Itália em 1920, compôs música sinfônica, ópera (“O Contratador de diamantes”), teve música regida por Richard Strauss no Rio de Janeiro na década de 1920; retornou no final da década, disposto a ser um Puccini brasileiro. Mas Mário de Andrade fez patrulha pesada; e Mignone, que não era bobo, tratou de usar matrizes africanas para soar nacionalista, como diz numa carta a um amigo, só para agradar ao amigo e agora mentor Mário de Andrade.
E escondeu-se sob o pseudônimo Bororó. No final da vida, em 1978, o compositor escreveu a um amigo: “A música voltou ao Chico Bororó. Escrevo para o povo e para o público”.
A pianista e sua segunda mulher Maria Josephina Mignone, vem realizando nos últimos anos um trabalho importante de resgate de gravações históricas e também gravando em estúdio montado em sua casa, no Rio de Janeiro, pela filha Anete Rubin Mignone. Aos 96 anos, ela acaba de lançar um álbum duplo intitulado “Chico Bororó (um jovem Mignone)”. No primeiro, ela toca 16 das 123 peças para piano assinadas por Bororó; e no segundo CD acompanha a cantora Neti Szpilman em onze divertidíssimas canções.
Assim, o CD desta semana enfoca Maria Josephina interpretando 16 peças variadas para piano solo de Chico Bororó. Na próxima semana, vamos curtir juntos as canções.
FAIXAS
1. Abaixo, ó piques
2. Dê-me um beijo
3. Festa na roça
4. Pontiando a viola
5. No tempo das saias compridas
6. Assim dança Nhá Cotinha
7. As gracinhas da vovó
8. Luar de minha terra
9. Céo do rio Claro
10. Saudades de Araraquara
11. Ema
12. Celeste
13. Coca
14. Flor de Jurema
15. Suave tormento
16. No cinema
2019
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