Strozzi, Frescobaldi, Caccini e Monteverdi com a soprano Gabriela di Laccio
“O século 17 foi uma época de ouro na música e a Itália era certamente o lugar para se estar”, escreve a soprano Gabriella Di Laccio no encarte de seu mais recente, CD lançado neste final de 2018 pelo selo Drama Música. “A aparição do stile rappresentativo’, o ‘recitar cantando’, foi o centro das mudanças na música que aconteceram por folta de 1600 e é frequentemente considerado como jum dos mais importantes pontos de transição em toda a história da música. O ‘Seicento italiano’ testemunhou o nascimento da ópera e teve um efeito duradouro no que veio a definir-se música, como a conhecemos hoje”.
De fato, como acrescenta Timothy Roberts no mesmo encarte, “Estudiosos, poetas, compositores, assim como patronos da arte – todos educados na cultura da Grécia e Roma antigas – procuraram criar ‘novas músicas’ que eliminassem a complexidade técnica e os ideais platônicos de moderação e equilíbrio da música do Alto Renascimento”.
E o repertório para voz solo com acompanhamento foi o formato ideal para se testar a nova música que descobria os encantos da declamação e objetividade emocional. É isso que torna este CD tão atraente e ao mesmo tempo diversificado assinado por compositores muito conhecidos como Claudio Monteverdi e mesmo Frescobaldi e Cazzini – mas também por nomes hoje pouco lembrados, como Tarquinio Merula, Giovanni Felice Sances ou Benedetto Ferrari.
Entusiasmada por Barbara Strozzi, uma das raras compositoras mulheres não só do século 17 mas também dos dois séculos seguintes – com justiça, aliás --, Gabriela ressalta que ela é citada como o mais prolífico compositor – homem ou mulher – de música vocal secular publicada em Veneza em meados do século 17. E acrescenta: “Ela teve a sorte de nascer em um mundo de criatividade, estímulo intelectual e liberdade artística. Ela deixou a sua marca como compositora e cantora e seduziu os corações e mentes dos nobres venezianos cantando suas próprias canções”.
Em “Affetti Barocchi”, Gabriela é acompanhada por cinco músicos da Capela Strumentale, liderada por Fernando Cordella do cravo e formada por Márcio Cecconello e Giovani dos Santos (violinos), Guilherme de Camargo (teorba e guitarra barroca), Diego Schuck Biasibetti (viola da gamba e cello barroco).
A soprano coloratura Gabriella Di Laccio nasceu em Canoas, na Grande Porto Alegre, e vive em Londres há dezesseis anos. Lá vem desenvolvendo uma carreira interessante e promissora. Em 2016 lançou o ótimo CD Bravura, primeiro pelo selo Drama, cantando várias das árias mais conhecidas de Haendel e Vivaldi. Gabriella já se apresentou no Wigmore Hall e no Purcell Room no Southbank Centre, entre outros espaços londrinos. Lançou ano passado o saboroso CD “Ombre Amene”, que mapeia um pouco da riqueza do repertório para voz e cordas dedilhadas do século 16, em que Gabriella Di Laccio interpreta canções de Mauro Giuliani (1781-1829) e Fernando Sor (1778-1839), alternadas com peças para violão destes compositores interpretadas pelo violonista escocês James Akers.
FAIXAS
Barbara Strozzi (1619-1677):
1. Che si può fare – Arie op. 8, 1664
Girolamo Frescobaldi (1583-1643):
2. Così mi disprezzate? (Aria di Passacaglia), Arie musicali, 1630
Barbara Strozzi:
3. L’Amante Screto – Cantate op. 2, 1651
Giulio Caccini (1551-1618):
4. Odi Euterpe – Le nuove musiche,1601
Tarquinio Merula (c.1594-1665):
5. Folle è ben che sì crede – Curtio precipitato et alti capricci, 1638
Girolamo Frescobaldi:
6. Se l’aura spira – Arie musicali 1, 1630
Claudio Monteverdi (1567-1643):
7. Quel sguardo sdegnosetto – Scherzi Musicali, 1632
8. Si dolce è il tormento – Quarto scherzo dele ariose vaghezze, 1624
9. Ohimè ch’io cado – Quarto Scherzo dele ariose vaghezze, 1624
Giovanni Felice Ferrari (ca.1603-1679):
10. Usurpator tirano – Cantata, Livro 2, 1633
Benedetto Ferrari (ca. 1603-1681):
11. Amanti, lo vì so dire (ciaccona), de Musiche varie a voce sola (Livro terzo), 1637
Gravado no Memorial Barbara Maix, Porto Alegre, de 5 a 9 de setembro de 2016.
CD Drama Música, 2018
www.drama-musica.com
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