Aos 28 anos, ele já tem a calma e sensibilidade dos grandes no violão de 7 cordas
Arthur de Souza Nascimento (1886-1957), conhecido como Tute nas rodas de choro cariocas, é considerado o introdutor da ilustr linhagem brasileira do violão sete cordas. Foi ele que adicionou uma corda mais grave às seis convencionais do instrumento. Originalmente, a corda adicionada era uma de violoncelo, afinada em dó, e necessitava o uso de uma dedeira no polegar. Mais tarde começou-se a usar uma corda grave, afinada em si ou em lá, feita como as demais cordas graves (bordões) do violão. Muitos violonistas utilizam, no choro, a sétima corda afinada em dó, porque que há muitos choros na tonalidade de dó e poucos em si. Assim um bordão com essa nota em corda solta facilita a montagem de acordes e o desenvolvimento de frases na baixaria.
Para Raphael Rabello, "no estilo choro, o violão caracteriza-se por frases de contraponto geralmente em escala descendente, utilizando-se somente as cordas graves. Daí o nome baixaria. Tute sentia necessidade de algumas notas mais graves, daí a ideia de colocar uma corda a mais nos bordões." A baixaria do 7 cordas dá à música um sentido de continuidade, caracterizado pela presença de contracantos com a melodia.
O fato é que dos tempos de Tute para o século 21, o Brasil produziu vários virtuoses do 7 Cordas, a ponto de a expressão “7 Cordas” virar mais um sobrenome para muitos violonistas. Um deles, hoje com 73 anos, Luisinho Sete Cordas, não economiza elogios ao segundo CD, “Vento Brando”, do violonista João Camarero, de 28 anos. Não tem dúvida: “Esse garoto é a maior revelação do violão. Se Dino Sete Cordas disse que eu seria seu sucessor, posso dizer então que passo o bastão para João”. Entre Luisinho e Camarero, é preciso nomear gênios como Raphael Rabello e Yamandu Costa.
Esta introdução serve para emoldurar o significado de “Vento Brando”, o CD desta semana na Cultura FM, recém-lançado pela GuitarCoop. Camarero nasceu em Avaré, interior do Estado de São Paulo. Estudou no Conservatório de Tatuí – e naquela escola adotou o violão de sete cordas. Já em São Paulo Camarero fez da cidade a base para a conquista de enorme prestígio nas rodas de choro cariocas. Dizem que Paulinho da Viola, vendo-o tocar, disse: “só pode ser filho de Raphael Rabello” por causa da semelhança física entre os dois.
Camarero funde a busca da perfeição técnica – que herdou dos estudos de violão clássico – com o domínio total das linguagens do choro e da música instrumental brasileira. Detalhe: ao contrário de Rabello e Yamandu, por exemplo, que fazem da virtuosidade vertiginosa um atrativo a mais de sua musicalidade, Camarero tem a calma e sensibilidade dos grandes nomes do instrumento.
Durante esta semana, os ouvintes da Cultura FM podem curtir à vontade este “Vento Brando” excepcional de João Camarero.
FAIXAS
1. Tocata em ritmo de samba (Radamés Gnattali)
2. Choro (da Brasiliana no. 13 – Radamés Gnattali)
3. Valsa no. 3 (Augusto Barrios
4. Inspiração (Aníbal Augusto Sardinha “Garoto”)
5. Enigma (Garoto)
6. Paulisstano (Rafael Mallmith e João Camarero)
7. Vento brando (João Camarero e Cristóvão Bastos)
8. Makarasu* (João Lyra)
9. Quadradinho** (Canhoto da Paraíba)
10. O maestro na farra (João Camarero)
11. Camará (Raphael Rabello e Paulo César Pinheiro)
* participação de João Lyra (violão)
** participação de João Lyra (violão) e Lucas Arantes (cavaquinho)
Gravado no Estúdio Bagual, Rio de Janeiro, em março de 2018.
CD GuitarCoop 2019.
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