O compositor e pianista toca, entre outras peças, as encantadoras oito lendas sertanejas
Os CDs das últimas duas semanas mostraram, em primeira mão, 27 composições de Chico Bororó, o pseudônimo que o compositor Francisco Mignone (1897-1986) escolheu, na juventude, para não ser patrulhado pela tribo erudita e poder compor em paz suas modinhas caipiras – várias delas gravadas por nomes como Francisco Alves -- e peças populares para piano.
Isso aconteceu na sua juventude, na década de 1920/30, quando fazia serenatas no bairro italianíssimo do Brás, em São Paulo, onde nasceu, e participava de rodas de choro.
Dos anos 1970 em diante, já na plena maturidade, Mignone fez questão de escrever a um amigo: “A música voltou ao Chico Bororó. Escrevo para o povo e para o público”.
Foi nesses anos finais de vida, ao lado da também pianista e sua segunda esposa Maria Josephina Mignone, que ele fez várias gravações de piano solo. Ele sempre foi ótimo pianista, habilidade obscurecida por seu talento composicional. Afinal, Mignone, Camargo Guarnieri e Villa-Lobos são os três maiores compositores brasileiros do século 20.
“Mignone toca Mignone” é o quinto volume da Coleção Mignone, que vem sendo lançada por Josephina na última década. Está disponível nas plataformas de streaming e em CD físico desde o final do ano passado. E respira ares muito próximos do mundo popular de Chico Bororó – apesar de terem sido criadas com seu nome verdadeiro. As peças raramente ultrapassam os 2 minutos, muitas nem isso e raras chegam aos 4.
O grupo mais encorpado é o das “Oito Lendas Sertanejas”. Vá direto à segunda, em sol menor: é uma recriação interessantíssima do “Luar do Sertão” de Catulo da Paixão Cearense. Mignone toca, em seguida, “Seis Pequenas Valsas de Esquina” (a expressão valsa de esquina foi criada por ele); e quatro peças brasileiras, onde sobressai um sacudido “Maxixando”. Duas valsas , uma de esquina no. 8 e outra valsa-choro no. 11 completam o CD, que inclui ainda um prelúdio, nos 3, em sol bemol maior. E duas faixas-bônus: Improviso Romântico e Valsa de Esquina no. 5. Tudo sempre abaixo dos 3 minutos.
Dá pra imaginar o que foi o Mignone-Bororó pianista lá pelas décadas de 1920 e 30: um instrumentista de primeira qualidade, que poderia ter feito carreira diante de um Steinway mundo afora.
FAIXAS
Oito Lendas Sertanejas:
1. No. 1 em fá sustenido menor
2. No. 2 em sol menor
3. No. 3 em sol bemol maior (Nhá Nocência morreu de Amô...) 3’26
4. No. 4 em dó maior
5. No. 5 em sol bemol maior
6. No. 6 em fá sustenido maior
7. No. 7 em ré menor
8. No. 8 em mi menor
Seis Pequenas Valsas de Esquina:
9. No. 1 (Cantando)
10. No. 2 (Calmo)
11. No. 3 (Doloroso e Agitado)
12. No. 4 (Vivo)
13. No. 5 (Seresteiro)
14. No. 6 (Delicado e Triste)
Quatro Peças Brasileiras:
15. Maroca
16. Maxixando
17. Nazareth
18. Toada
19. Valsa de Esquina no. 8
20. Valsa-Choro no. 11
21. Prelúdio no. 3 em sol bemol maior
FAIXAS=BÔNUS:
22.Improviso Romântico
23.Valsa de Esquina no. 5
2018.
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