Em seu primeiro CD para o selo SESC, com a pianista Cristina Ortiz e regência de Fábio Mechetti
Projetos de gravação de discos no reino sinfônico costumam custar caro. O próprio dia-a-dia de uma orquestra sinfônica prova que este é o brinquedo mais caro da vida musical de uma cidade, Estado ou país. Mede-se a saúde da música em um local quando se olha para sua orquestra e percebe-se sua vitalidade, qualidade artística e legitimação junto à comunidade.
Quando uma orquestra brasileira tem a chance de gravar um CD, o repertório e o solista escolhido sinalizam uma conduta. A Filarmônica de Minas Gerais nasceu nove anos atrás, em 2008, num concerto em Belo Horizonte em que o maestro Fábio Mechetti regeu a Nona Sinfonia de Beethoven. Era mais que um agrupamento de músicos e entusiastas locais, fossem empresários, a mídia e os músicos. Era um projeto sólido, coerente, que agora já se impõe como uma das mais orgânicas instituições sinfônicas do país.
Pode parecer exagero, mas não é. Ela já tem sua sede moderníssima. Em suas temporadas tecidas com cinco séries de concertos diferentes, legitimou-se amplamente junto à opinião pública e ao público de Belo Horizonte. E agora, quando grava seu primeiro CD para o Selo SESC, enfoca o repertório brasileiro, com duas obras de Camargo Guarnieri e uma gema pouco conhecida de Alberto Nepomuceno. A solista é a pianista Cristina Ortiz, dona de um talento excepcional. E, terceiro pé deste triângulo virtuoso, o maestro Mechetti soube trabalhar duro no dia-a-dia com a orquestra, construindo uma sonoridade própria.
O concertino para piano e orquestra de câmara foi composto por Guarnieri em 1961 e o Choro em 1956. Já foram gravados outras vezes. Nunca com o ímpeto de Cristina. Ao que tudo indica, estas passam a ser leituras-modelo destas obras, daqui em diante.
A grande descoberta do CD são as seis Valsas Humorísticas op. 22, de Nepomuceno. Foram compostas em 1902. Mário de Andrade, citado por Flávia Toni em seu belo texto no folheto interno do CD, listou as qualidades destas valsas em artigo para o Diário Nacional, em concerto de 1930: “aquela nitidez melódica franca e sem vulgaridade, tão comum nas obras de Nepomuceno; a notável variedade rítmica; o a propósito de certas evocações humorísticas de temas alheios (João Strauss, Chopin); a riqueza de cores orquestrais”.
São tão interessantes quanto as danças húngaras de Brahms ou as eslavas de Dvorák. A íntegra do CD estará disponível por esta semana inteira no portal da Cultura FM. Então, comece a audição por estas seis valsas. E só depois, já devidamente envolvidos e entusiasmados, passem às peças de Guarnieri.
FAIXAS
Mozart Camargo Guarnieri (1907-1993):
Concertino para piano e orquestra de câmara (1961):
1. Festivo; Tristonho – Vivo – Tempo primo
2. Alegre (rondó)
Choro para piano e orquestra (1956):
3. Cômodo
4. Nostálgico
5. Alegre
Alberto Nepomuceno (1864-1920):
Valsas Humorísticas op. 22 (1902):
6. Valsa I – Tempo de valsa un poco vivo
7. Valsa II – Lento
8. Valsa III – Moderato pesante
9. Valsa IV – Tempo de valsa commodo
10. Valsa V – Tempo giusto
11. Valsa VI – Allegro
Orquestra Filarmônica de Minas Gerais
Cristina Ortiz (piano)
Fábio Mechetti (maestro)
Gravado em julho e agosto de 2016 na Sala Minas Gerais, em Belo Horizonte.
CD SeloSESC, 2017 – à venda em todas as unidades SESC
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