Os Guarneri de Praga interpretam seus dois trios para piano e cordas
Criado em 1986 por três grandes músicos checos, o Guarneri Trio de Praga mantém a mesma formação até hoje. Disso resulta uma extraordinária qualidade de interpretação. Música de câmara, sabe-se, é convivência, é amadurecimento pessoal e artístico entre os músicos. Cada voz precisa entregar-se de corpo e alma ao coletivo – e ao mesmo tempo preservar a individualidade.
Um obstáculo tão difícil de ser transposto a ponto de jogar na vala comum muitos grupos camerísticos. Contam-se nos dedos os grupos de exceção: entre os trios de piano e cordas, como o Guarneri, vem à mente apenas o Beaux Arts liderado por Menahem Pressler – e ainda assim talvez apenas no seu período áureo, nos anos 70/80.
São três músicos da mais fina linhagem do leste europeu. Como me disse anos atrás Michal Kanka, violoncelista do quarteto de cordas checo Prazak, eles nascem lá tocando quartetos e música de câmara. E acrescentou: como vocês, brasileiros, nascem sambando em escolas de samba. Exageros à parte, está no sangue.
Seus integrantes são artistas consumados: Ivan Klansky ao piano; Cenek Pavlik ao violino; e Marek Jerie ao violoncelo. Eles adotaram o nome Guarneri porque os dois instrumentistas de cordas usam instrumentos feitos pela famosa família de lutiês italianos dos séculos 17 e 18: o violino é um Guarneri del Gesù de 1735; o cello um Andrea Guarneri de 1684.
Pois os Guarneri tocaram em São Paulo alguns meses atrás. Mais precisamente no auditório do MASP. E interpretaram de modo admirável o primeiro trio de Brahms, composto na juventude, em 1853, quando o compositor estava com 20 anos (Brahms o reformatou em 1891, 37 anos depois).
Durante esta semana inteira, você terá o privilégio de ouvir o CD do selo Praga Digitals na íntegra, quantas vezes quiser, contendo os trios opus 8 e 101. A título de bônus, Pavlik e Klansky tocam o scherzo para violino e piano, movimento da sonata coletiva FAE, que tem uma história curiosa. Schumann teve a ideia de presentear seu amigo violinista Joseph Joachim, então em turnê, com uma sonata para violino e piano que intitulou “FAE”, na notação alemã, que corresponde às notas musicais fá – lá e mi. Detalhe: além de sinalizar as notas, FAE era a abreviação da frase Frei, aber einsam, ou Livre, mas só, o mote de Joseph Joachim. Dietrich compôs o Allegro em lá menor – Schumann o intermezzo em lá - o jovem Brahms encarregou-se de escrever o scherzo, só que em vez de usar a tonalidade de mi, ele optou pelo tom relativo menor, um dó. A brincadeira, na volta de Joachim, em 26 de outubro, foi o violinista descobrir os autores de cada movimento. A surpresa foi o scherzo de Brahms, de longe a parte mais notável da sonata.
FAIXAS
Trio para piano e cordas no. 1 em si maior, opus 8
1. Allegro con brio - 13’47
2. Scherzo. Allegro molto – Meno allegro – 6’26
3. Adagio - 6’28
4. Finale - Allegro - 6’14
Movimento de sonata em dó menor FAE – para violino e piano
5. Scherzo - 5’16
Trio para piano e cordas no. 3 em dó menor, op. 101
6. Allegro energico – 7’12
7. Presto non assai – 2’52
8. Andante grazioso – 4’28
9. Allegro molto – 4’56
Guarneri Trio de Praga:
Ivan Klansky – piano
Cenek Pavlik – violino
Marek Jerie – violoncelo
Gravado em junho de 2006
Praga Digitals/Harmonia Mundi
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