Para flauta, com Vladimir Soares, e cravo, com Fabian Grosch
Anna Bon nasceu em 1738 em Veneza, numa família musical. O pai era libretista e cenógrafo, a mãe cantora. Ambos trabalhavam em produções líricas. Quando estava com 4 aninhos, seus pais a matricularam no Ospedale dela Pietà, como aluna pagante. Modernamente isso soa estranho, já que se sabe que o Ospedale – no qual Antonio Vivaldi deu aulas e compôs por muitos anos – abrigava filhos bastardos dos nobres da cidade e tinha uma fama de ser um lugar de excelência na prática da música. Era atração turística. Escritores como o francês Stendhal, por exemplo, visitaram o Ospedale, assistiram a concertos e escreveram maravilhados.
Ana era ‘figlia de spesi’ e estudou na Pietà até 1754, mas com frequência se ausentava porque acompanhava os pais em turnês e se apresentava como criança prodígio. Em 1755 seus pais aceitaram cargos na corte da princesa Guilhermina da Prússia, em Bayreuth. Esta era irmã do rei Frederico o Grande, da Prússia, conhecido também como bom flautista. Por isso Ana dedicou ao rei-flautista seu opus 1, um conjunto de seis sonatas para flauta doce e contínuo (cravo). Na mesma época, também compôs seis sonatas para cravo (opus 2) e seis divertimentos para duas flautas e cravo (opus 3).
Com a morte da princesa Guilhermina, em 1758, a família voltou à rotina das turnês. Empregaram-se por um tempo, em 1762, na corte dos Esterhazy, mais conhecidos na história da música por terem sido patrões de Haydn por três décadas.
Ana casou-se com um cantor italiano em 1767. É espantoso, mas o flautista inglês e professor no Royal College of Music de Londres Ashley Solomon assegura: “Não sabemos mais nada sobre sua carreira ou vida após o casamento”.
Quando se ouve estas seis sonatas, percebe-se que Ana as compôs pensando nas habilidades de Frederico o Grande, indica Solomon: “Ana conhecia o gosto musical e a técnica de Frederico. As sonatas contêm extensas passagens técnicas no registro intermediário com oportunidades infrequentes de respiração”. Também sabia que Frederico não gostava de adágios tristes, evitou-os a todo custo. Escreveu frases com linhas melódicas simples, para o rei-flautista ornamentá-las a seu gosto. Último detalhe apontado por Solomon: com exceção dos minuetos, nenhum dos demais movimentos tem título de dança – algo bem incomum para a época.
O flautista gaúcho Vladimir Soares, é mestre pela Escola Superior de Música de Stuttgart e nesta gravação é acompanhado por Fabian Grosch ao cravo. Diferencial: Vladimir utiliza vários registros de flauta doce, mais de um em cada sonata. Na quarta sonata, por exemplo, Vladimir usa duas flautas diferentes: “flauta de voz”, de som mais assemelhado ao da flauta transversal, no Allegro moderato inicial e no Allegro assai final; e a substitui por uma flauta contralto no Andante intermediário.
FAIXAS
Sonata no. 1 em dó maior:
1. Adagio
2. Allegro
3. Presto
Sonata II em fá maior:
4. Largo
5. Allegro
6. Allegro
Sonata III em si bemol maior:
7. Andantino
8. Allegro
9. Minuetto
Sonata IV em ré maior:
10. Allegro moderato
11. Andante
12. Allegro assai
Sonata V em sol menor:
13.Allegro
14.Andante staccato
15.Allegro
Sonata VI em sol maior:
16.Adagio
17.Allegro
18.Minuetto con variazione
Vladimir Soares: flautas doces
Fabian Grosch – cravo
Gravado na Holy Trinity Church, Weston, entre 25 e 27 de outubro de 2018.
CD DramaMúsica 2019. www.drama-musica.com
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