Por Cristiano Alves, em solo, duos e com orquestra de cordas
Sua mãe, seu mestre Camargo Guarnieri, sua mulher Eudóxia de Barros e Mozart. Estas eram as quatro pessoas às quais o compositor paulistano Osvaldo Lacerda (1927-2011) diz que devia sua carreira. Agiu sempre como Mozart, que não se preocupava em apresentar novidades e modismos a cada nova obra e preferia levar à perfeição todos os gêneros que praticou, Lacerda jamais exibiu a ânsia de ser novo, inédito.
Em vez disso, sua obra apresenta uma solidez de metiê, um artesanato irretocável, aliado a uma criatividade que se enquadra nos limites da tonalidade – mas jamais se perde em banalidades. Um pouco, ou melhor, muito parecido com Camargo Guarnieri, com quem teve aulas de composição por uma década.
O clarinetista Cristiano Alves conheceu Lacerda em 2008, quando solou as suas “Variações sobre uma velha modinha”, para clarinete e cordas, em Curitiba. A convivência com o compositor levou-o a abraçar o projeto de gravar a integral de sua produção para o instrumento em dois CDs. O primeiro acaba de ser lançado; o segundo deve coincidir com a passagem dos 90 anos de nascimento de Lacerda.
Alves nasceu em Niteróio, é doutor em música pela Unicamp e é professor na UFRJ; atua em duo com o pianista Ricardo Ballestero; e já tocou com as principais orquestras brasileiras e latino-americanas.
Neste primeiro CD, o clarinete “conversa” com várias formações. Em duas, tem o piano como parceiro. Em outras três, atua sozinho (não deixe de curtir o início à la Rhapsody in Blue de “Improviso”). E em outras contracena com a viola (em “Choro-Seresteiro e Fuga”) e a trompa (“Invenção”). Lacerda parece ter certa preferência pelo duo clarinete-fagote, ao qual dedicou duas peças (“Tocatina e Fuga” e “Duo”).
O compositor mostra todo o seu domínio da escrita que o caracteriza nas belas “Variações sobre uma velha modinha”, para clarinete e cordas, a composição mais ambiciosa do CD. Cristiano Alves teve a feliz ideia de colocar frases de Lacerda parafraseando cada peça. A que ele escreveu sobre estas variações é uma profissão de fé: “Não é verdade que a música seja uma linguagem universal. Na verdade, a linguagem é sempre nacional, podendo ser compreendida universalmente”.
FAIXAS
Três momentos musicais (clarinete e piano, 1995)
1. Allegro
2. Andante
3. Vivo
4. Improviso (clarinete solo, 1995)
Choro-Seresteiro e Fuga (clarinete e viola, 1998)
5. Choro-Seresteiro
6. Fuga
Tocatina e Fuga (clarinete e fagote, 1957)
7. Tocatina
8. Fuga
Quatro Melodias (clarinete solo, 1988)
9. Nordestina – Calmo e tristonho
10. De duas em duas – Com leveza
11. Cromática - Moderadamente lentol um pouco rubato
12. Scherzino Pentatônico – Gracioso
Quatro Peças (clarinete e piano, 1986)
13.Chalumeau – Andante non tanto. Allegro Scorrevole. Andante
non tanto 3’07
14. Clarino – Allegretto 2’49
15.Improviso – Andante. Allegro giusto. Allegretto. Andante.
Allegro giusto 4’30
16.Tocatina – Allegro giusto 2’11
17. Invenção (clarinete e trompa, 1954) 1’32
18. Melodia (clarinete, 1974) Con moto moderato 3’00
Duo (clarinete e fagote, 1957, rev. 1972)
19. Tempo de marcha – 2’06
20. Magoado – 1’58
21. Vivo, mas não rápido – 2’23
22. Variações sobre uma velha modinha (clarinete e cordas, 1973)
Gravado na Sala Cecília Meirelles e A Casa Estúdio, no Rio de Janeiro.
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