Em leitura apaixonante do maestro Paavo Iärvi à frente da Orquestra Nacional Russa
Amanhecia o dia 22 de junho de 1941 em Leningrado (hoje São Petersburgo), quando os primeiros tanques nazistas ultrapassaram a fronteira soviética, na Segunda Guerra Mundial. Em 8 de agosto, a cidade sofreu os primeiros bombardeios aéreos. O cerco a Leningrado durou 900 dias seguintes, até fevereiro de 1944. Dmitri Shostakovich, então com 35 anos, era professor no conservatório local. E, apesar de ter sido humilhado em 1936 por Stálin e o regime por sua ópera “Lady MacBeth de Msensk”, ele insistiu com os recrutadores do exército vermelho por três vezes, até ser admitido como bombeiro. Foi com o chapéu característico dos bombeiros que ele apareceu na cada da revista semanal norte-americana “Time” de 20 de julho de 1942.
Sua “Sinfonia no. 7”, composta em 1941 com a cidade já resistindo ao exército nazista, sofreu muitas distorções ideológicas. “Ouvi muito absurdo a respeito da sétima e oitava sinfonias”, confessou Shostsakovich em “Testemunho”, controvertido livro de entrevistas secretas do compositor com Solomon Volkov de 1979. “É estranho como esta estupidez persiste.” Direto ao ponto: tendo sofrido na carne as pressões do regime soviético, ele enxergou no nazismo outra ameaça ditatorial. A obra, por isso mesmo, tem o tom de resistência sim. É uma carta aberta cifrada de alguém que lutava contra uma ditadura interna e sentia-se ameaçado pela perspectiva de uma ditadura global implantar-se caso os nazistas vencessem.
Os três primeiros movimentos -- o Allegreto inicial, um monumental libelo de mais de 26 minutos ideologicamente qualificado como uma descrição musical da invasão da Wehrmacht; o Moderato (poco allegretto) e o pungente Adagio – foram escritos sob bombardeio nazista. O Allegro non troppo final já foi escrito com a cidade evacuada, em dezembro de 1941. Ele mesmo esclareceu que o Allegretto não pintava em sons a invasão nazista, mas “eventos terríveis”, portanto aplicando-se também aos horrores estalinistas impostos à população antes da Segunda Guerra Mundial. “Dificilmente se encontra uma família em Leningrado que não tenha perdido uma perda: o pai, o filho; e, se não um membro da família, um amigo próximo”.
Bem, é esta obra dilacerada e dilacerante, criada em condições extremas, que você vai ouvir na íntegra, durante uma semana, numa gravação recém-lançada pelo selo holandês Pentatone no mercado internacional. Exclusividade da Cultura FM.
O maestro estoniano Paavo Järvi rege a Orquestra Nacional Russa. A gravação foi feita em fevereiro de 2014 na Grande Sala do Conservatório de Moscou.
Orquestra Nacional Russa
Regência: Paavo Järvi
Pentatone, Outubro de 2015
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