Um cosmopolita
Carl Maria von Weber nasceu na Alemanha em 1786, quando Haydn e Mozart viviam em Viena, e morreu em 1826 em Londres, quando Beethoven ainda vivia. Passou sua curta vida em tempos de transição: a música ainda transitava e dependia da nobreza e ao mesmo tempo já esboçava alternativas para atender a um novo público que surgia, a emergente classe média. Por isso, Weber foi também crítico musical e maestro. Uma de suas mais populares criações, “Convite à Dança”, quer mostrar que, mesmo usando formatos populares, é possível criar música de densidade artística.
Apesar de ter crescido viajando com a família por toda a Europa, a posteridade pregou em Weber o rótulo de ícone nacionalista de um país que ainda não existia juridicamente, mas buscava desesperadamente uma identidade nacional. A temática de suas óperas não é escancaradamente nacionalista, embora seu maior sucesso lírico, “Der Freischütz” [O franco-atirador], mergulhe fundo na música folclórica germânica. Sua grande marca era o cosmopolitismo. Escolhia obras nas quais basear os libretos de suas óperas nas tradições alemã, francesa e italiana, e sua linguagem musical leva em conta formas, gêneros e estilos de diversas escolas nacionais.
Isso não impediu a opinião pública alemã de enxergar na folclórica Der Freischütz a expressão artística de sua experiência coletiva e sua própria imagem. Esta ópera foi uma resposta original e contrária ao estilo da grande ópera internacional à italiana. Em seus últimos dez anos de vida, entre 1816 e 1826, Weber trabalhou em Dresden, onde lutou pelo direito da ópera alemã de competir em pé de igualdade com as demais tradições nacionais líricas.
Weber foi decisivo em todos os gêneros que praticou. Influenciou praticamente todos os grandes compositores que o seguiram. Na ópera, o impacto de “O Franco-Atirador” foi determinante nas décadas seguintes. Inspirou “O Navio Fantasma” de Wagner, que deve bastante a Weber. Há muitos traços de outra ópera sua, “Euryanthe”, em “Tannhäuser” e “Lohengrin”, de Wagner. Sua música para piano era tida em alta conta por compositores-pianistas como Mendelssohn, Chopin e até Liszt. Para Berlioz, a música de Weber o ajudou a encontrar sua própria originalidade.
No domínio da música sinfônica e concertante sua influência não foi menor. A exploração inteligente de novas sonoridades nestes gêneros em obras como o “Konzertstück” e as aberturas das óperas “Oberon” e “Euryanthe” abriram caminho até para os poemas sinfônicos de Liszt. Gustav Mahler, quase um século depois, não se envergonhava de dizer que aprendera a lidar com a orquestra ouvindo e estudando Weber (ele chegou a completar a ópera “Die Drei Pintos”, que aquele deixou inacabada).
E por que sua música não é mais interpretada com a frequência merecida nas salas de concertos, assim como suas óperas não são montadas nos teatros líricos? Porque nossos ouvidos -- impregnados dos modelos beethoveniano em relação à música instrumental e wagneriano no reino lírico – não conseguem se desintoxicar de volumes sonoros mais imponentes e majestosos. A audição da música de Weber exige ouvidos sem nenhum juízo preconcebido. Ouvir Weber hoje é tão difícil quanto ouvir Haydn e não rotulá-lo apenas como antecessor de Mozart e Beethoven.
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