O compositor deste mês é o gênio alemão do Romantismo
“Chamo este de o Brahms de meus vinhos”, anunciou o anfitrião de um jantar em torno de Johannes Brahms (1833-1897) após um concerto em Viena, tentando homenageá-lo. “Então”, disse o compositor, “vamos ver se encontramos uma garrafa de Bach”. Esta é uma das muitas tiradas que deixam transparecer não só seu bom humor como principalmente nos ajudam a compreender melhor o último dos geniais três “Bs” da música alemã, ao lado de Bach e Beethoven. Em outra ocasião, escreveu o seguinte a Clara Schumann sobre o descaso reinante em Viena com relação aos concertos de Mozart: “O fato de que o público em geral não entende nem aprecia as melhores coisas é a razão que me tornou famoso”.
Esta exagerada -- e até maldosa -- autocrítica e a consciência de sua posição na história da música fazem de Brahms o primeiro compositor que teve de lutar com uma tradição e um passado musicais gloriosos para se impor como criador original. Escreveu suas primeiras obras na década de 40 do século 19, no momento em que se fixava na opinião pública europeia o cânone dos grandes compositores do passado e começava-se a chamar de obras-primas apenas as que resistiram ao teste do tempo.
Pela primeira vez a vida musical deixava de ser feita exclusivamente com obras novas a cada dia; passou-se a olhar para o passado musical desde que o compositor Félix Mendelssohn promoveu o resgate da esquecida “Paixão Segundo São Mateus” de Bach em 1829, em Berlim.
O musicólogo inglês William Weber observa, no artigo “Conseqüências do Cânone” (2003), que em cem anos a proporção de música do presente decresceu de modo significativo: “A evolução histórica dos percentuais de obras de compositores mortos/vivos nas temporadas de uma das mais antigas orquestras européias, a Gewandhaus de Leipzig, não deixa dúvida de que os mortos avançaram sobre os vivos: 1786/87: 11% de obras de compositores mortos; 1845/46: 39%; 1910/11: 82% de obras de criadores mortos e só 18% de vivos”.
As expectativas dos ouvintes mudaram fundamentalmente, adverte Weber. No século 18 e na maior parte do 19, período em que os programas dos concertos misturavam obras novas e antigas, os espectadores não presumiam que a música nova era por definição maravilhosa nem candidata a obra-prima. “Mas, por volta de 1890, todo mundo -- críticos incluídos --, procurava com impaciência o compositor que honraria o cânone dos grandes criadores e das obras-primas do passado”.
E o modelo de referência naturalmente era Beethoven. Foi nesta atmosfera hostil -- em que era missão quase impossível topar com um novo Beethoven em cada esquina, ou sala de concerto -- que Brahms viveu e atuou. Conseguiu impor-se como a única alternativa realmente significativa ao “tsunami” musical que representaram as óperas de Richard Wagner, por ele chamadas de exemplos máximos da “obra de arte do futuro”.
Assumiu o risco de ser chamado de reacionário e passadista, mas jamais desviou-se de um caminho que o fez iniciar-se com a música coral e de câmara em suas primeiras duas décadas de criação; conquistar prestígio como mestre consumado da sinfonia, do concerto e da música coral-sinfônica e, na maturidade, dedicar-se a uma sequência inacreditável de obras-primas camerísticas.
Viveu o suficiente para ver-se ungido como o terceiro da genial trinca de deuses da música alemã cujos nomes começam com a letra “B”. Com toda justiça.
Durante este mês, no RadioMetrópolis e no Tarde Cultura, você vai passear pela obra de Brahms. Sempre em performances exclusivas da Cultura FM, captadas em concertos ao vivo por toda a Europa.
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