A música de qualidade do compositor checo contemporâneo de Villa-Lobos é destaque na programação da Cultura FM em julho
Ele representa a continuidade e também as transformações, a aventura e o enraizamento, a ousadia e a modéstia, a abertura e a independência. É com essas palavras que Guy Erismann, um dos mais qualificados estudiosos da música checa, define o compositor Bohuslav Martinu (1890-1959). De fato, sua música é um caleidoscópio onde cabem ótimos exemplos criativos daqueles atributos acima mencionados.
A aventura fica por conta, por exemplo, de sua mudança para Paris, aos 33 anos, em 1923 – mesmo ano em que Villa-Lobos também chegava à capital francesa –, período em que se encantou com o jazz à francesa e o neoclassicismo capitaneado por Igor Stravinsky. Escreveu muitas obras inspiradas no jazz, nos esportes e até um concerto para cravo. Sua música de câmara das décadas de 1920 e 30 é considerada um dos pontos altos de sua produção.
Ousado, mudou-se para os Estados Unidos em 1941, em plena Segunda Guerra Mundial. Apadrinhado pelo maestro russo Sergei Kussevitzky, então todo-poderoso titular da Orquestra Sinfônica de Boston, teve flexibilidade – ou seja, modéstia, abertura – para amaciar sua música e iniciar-se no gênero sinfônico (foram cinco sinfonias entre 1941 e 1946, todas encomendadas por Kussevitzky e estreadas em Boston).
Erismann talvez tenha esquecido de mencionar seu temperamento difícil. Contratado por Kussevitzky para dar aulas de composição no Festival de Verão de Tanglewood (modelo que Eleazar de Carvalho transplantaria mais tarde para Campos do Jordão), Martinů caiu de um terraço. Teve concussão cerebral e outras sequelas. Ficou surdo de um ouvido. Gastou muito dinheiro com médicos e hospitais. Decidiu processar seu padrinho Kussevitzky e o Festival.
Relações rompidas entre eles, Martinů só voltou a compor uma sinfonia, a sexta e última, sete anos depois, em 1953, por encomenda de Charles Munch, o sucessor do russo em Boston.
Não seria absurdo fazer um paralelo com as carreiras criativas de Martinů e Villa-Lobos. Ambos foram ligados ao folclore de seus países; ambos foram aventureiros, conquistaram o mundo; ambos adotaram o neoclassicismo misturado com tinturas nacionalistas. Ambos morreram no mesmo ano, 1959. E assim como Villa foi cooptado e manipulado pelo regime de Vargas, Martinů também foi manipulado pelo regime comunista checo após sua morte. Ele não retornou a seu país após o término da Segunda Guerra Mundial por motivos ideológicos. Decidiu-se pela neutra Suíça, onde morreu. Mas seus restos mortais foram trasladados com pompa e circunstância, numa grandiosa festa em 1979 em que o regime de Praga transformou-o em uma de suas principais bandeiras de propaganda cultural.
Por tudo isso, mas principalmente por sua criação artística, é importante ouvirmos e conhecermos melhor uma amostra da vasta produção de Martinů – com ênfase na excelente música de câmara – durante este mês de julho, no RadioMetrópolis e no Tarde Cultura, de segunda a sexta-feira.
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