Um dos mais refinados e menos conhecidos compositores franceses da segunda metade do século 19
Ernest Chausson pertence à classe dos compositores que só ficam conhecidos na história da música por causa de alguma circunstância bizarra de sua existência. Assim como Charles-Valentin Alkan (1813-1888), que morreu quando uma pesada estante de livros de sua bilioteca despencou sobre ele, Chausson também figura nas enciclopéias como sendo o único compositor que morreu montado numa... bicicleta. Aos 44 anos.
Injustiça flagrante. Como no caso de Alkan, compositor-pianista amigo de Chopin em Paris que possui uma farta e ótima produção para piano solo, Chausson também assina só obras de qualidade. Foram poucas, é verdade. Seu catálogo contabiliza apenas 60 obras, incluindo as canções. Na música de câmara, um trio para piano, violino e violoncelo; dois quartetos, um de cordas, outro para piano e cordas; uma peça isolada para violoncelo e piano; e o excepcional, antológico “Concerto para piano, violino e quarteto de cordas opus 21”. No reino sinfônico, também foi econômico, em razão de uma feroz autocrítica: dois poemas sinfônicos – “Viviane” e “Soir de fête” –, uma sinfonia e aquela que é sua obra mais conhecida, o “Poema para violino e orquestra”.
Nascido em família rica em 20 de janeiro de 1855 em Paris, Chausson ficou dividido entre a literatura e a pintura, que amava e praticou com talento, e a música. A paixão por Richard Wagner levou-o a frequentar o Festival de Bayreuth por uma década, entre 1879 e 1889. Sua lua-de-mel foi passada em Bayreuth. Aluno de Massenet e César Franck, foi profundamente influenciado pelo segundo: adotou o princípio da forma cíclica, na qual os temas dos movimentos iniciais reaparecem no final, formulado por Franck, em quase todas as suas obras. Trabalhou por dez anos em sua ópera “Le Roi Arthus” – O Rei Artur, que concebeu a partir de pesquisas sobre a távola redonda. A orquestração reflete escancaradas influências wagnerianas, mas Chausson também absorve de Debussy o fino trato com uma orquestração mais leve, diáfana. Ele não chegou a ver sua ópera encenada. Amigo de Claude Debussy, entre tantos outros compositores, jamais quis ver os esboços preliminares e as versões reduzidas da ópera “Pélleas et Melisande” – “para não se deixar influenciar pela genialidade” do amigo. O acidente de bicicleta que o matou aos 44 anos, em 1899, não lhe deu a chance também de assistir à estreia de “Pélleas”, que só aconteceu em 1902.
Vale, no entanto, conhecer melhor e ouvir sua obra. Ela possui o refinamento típico de Debussy e respira, quase sempre, um wagnerismo escancarado. Nos melhores momentos, é maravilhoso. No mínimo, um excelente discípulo do autor do Anel. Ao longo deste mês, vamos mostrar praticamente toda a sua obra, com exceção da ópera – da qual você vai ouvir alguns trechos. Diariamente, no Rádio Metrópolis e no Tarde Cultura.
O cmais+ é e reúne os canais TV Cultura, UnivespTV, MultiCultura,
TV Rá-Tim-Bum! e as rádios Cultura Brasil e Cultura FM.
Visite o cmais+ e navegue por nossos conteúdos.
Compartilhar